Há exatamente 148 dias eu estou sem meus filhotes.

Meu mais velho, que está hoje com 11 anos e com catarata, é o meu xodó. Meu “fio toin” (variação de “filho, vem cá no colinho na mamãe”). Ele é um yorkshire temperamental, mimado, se acha valente quando está no colo e se por acaso ninguém dá atenção pra ele, com certeza ele vai ficar deprimido, vai andar devagarinho, com a cabeça baixa e as orelhas caídas. Isso tudo é tática pra alguém chegar perto dele e perguntar: “o que foi, Brandinho? tá tudo bem? vem toin, vem…”
Mas mesmo sabendo que não passa de uma estratégia pra ganhar atenção, eu sempre me rendia àquelas orelhinhas caídas. Será que tem alguém fazendo isso por ele hoje, já que eu estou aqui, a 7mil km de distância?
Minha mãe garante que ele está tendo toda a atenção da minha afilhada, de 3 anos de idade.
Além do Brandon, eu tenho duas yorks: Camille Claudel e Audray Hepburn. A Camille teve um problema no olho, e perdeu o globo ocular. Ela é um bichinho do mato, e já era assim antes mesmo do problema no olho. Não vem com ninguém, exceto comigo e com o meu pai. Se escuta a voz do meu pai, ela sai debaixo do sofá. Se outra pessoa chama por ela, ela meio que se camufla debaixo do sofá e não sai dali até se sentir segura, ou seja, até o silêncio reinar novamente.
A Audray é uma princesa. Ela se acha linda e quer que todos olhem pra ela e digam “mas que cachorrinha mais linda!!!”. Ela deita e cruza as patinhas da frente. Se tiver um ventilador ligado, ela se sente a dama de vermelho e deixa os pelos esvoaçarem ao vento…
Se tem visita em casa, a Audrayzinha fica no pé da pessoa. Literalmente. Ela adora um dedão do pé. É assim: ela deita no chão, ao lado do seu pé, coloca uma patinha em cima, e fica paquerando o dedão do pé. Pra fugir disso é só usar sapato fechado.

Além dos meus pequenininhos, eu também tenho uma dobermann, de 7 anos.
Ela se chama Menina, já está sem dentes, está entortando (não me peça pra explicar, mas ela entorta quando está feliz), e é a cachorra que guarda a casa. Tadinha, já passou por tanta coisa… A mãe biológica dela (que também era minha) batia demais nela. Ela não tem a ponta de uma das orelhas, porque a mãe dela arrancou quando ela era filhote. Tive que arrumar um outro lar para mãe da Menina. Depois disso ela teve cria duas vezes (com um pit bull), sendo que na primeira foram 14 filhotes. Vivos ficaram 10. Na segunda foram 10 filhotes. Todos vivos. Depois ela teve otohematoma na orelha direita. Levei-a na Suipa, pra fazer a cirurgia. A orelha ficou boa, mas não ficou perfeita. Uns seis meses depois ela teve na orelha esquerda. Aí eu fui na vet que trata de todos os meus filhotes e fez uma cirurgia perfeita, deu um jeitinho pra ficar no formato da orelha e pra não engrossar e ficar amassada, como ficou a direita. E não parou por aí. Ela teve um câncer de mama também e um cisto sebáceo. Foi operada e fui alertada que o câncer poderia voltar. Aí eu viajei pra cá e ela engravidou de novo. De quem? Do vira-latas que jogaram lá no meu quintal, quando ainda era um filhote. Ele agora está com 1 aninho, está muito bem, obrigada, mas antes de soprar velinhas já fez filho. Nasceram 4 babies lindos.
Esse vira-latas (aqui são conhecidos como cães rafeiros) se chama Lord, e carinhosamente o chamamos de Lord Bujão, porque ele ficava escondido atrás do botijão de gás quando era filhotinho. Foi no dia 10/03/2008 que jogaram ele dentro do meu quintal. Acho que imaginaram que ele seria bem tratado, ou que daríamos ele pra alguém que gostasse de cães, porque qualquer um que passasse na porta lá de casa via aquela cachorrada toda e imaginava que ali só morava cachorro, porque tem mais cachorro do que gente. Então alguém deixou o Bujãozinho lá em casa. Não sei quem foi, sei que foi às 5 da manhã de uma segunda feira. Ele foi ficando e ficou. Demos pra ele uma bolinha de presente, e ele trocava um prato de ração pra jogar bolinha. Hoje não sei como está. Minha mãe diz que ele perdeu o interesse pela bolinha. Tá certo que ele as destrói em 2 dias, mas agora ele cansa de correr atrás da bola tanto tempo.
Com o lançamento do filme Marley and Me aqui em Lisboa, junto com a ausência dos meus filhotes, e overdose de programas da Oprah sobre adoção de animais, eu estou carente de pet.
Às vezes eu tenho vontade de entrar num abrigo de cães, escolher um e trazer pra casa. Mas eu tenho tanta incerteza ainda, não tenho coragem de trazer um cachorrinho aqui pra casa e não poder dar a atenção que ele merece.
Ainda não estou trabalhando, e assim que chegar minha carta do SEF eu vou mudar isso, logo, não estarei durante o dia com o cachorrinho;
Pretendo mudar de apartamento até o final de ano, para um maior, e não sei o próximo vai aceitar pets;
Vou viajar por aqui pela Europa, pra conhecer todos os lugares que sempre sonhei conhecer, e onde vou deixar meu futuro pet?
Quero ter filhos até 2011, e não sei se vou conseguir dar conta de cuidar de criança e de pet ao mesmo tempo, porque estamos cá só eu e meu marido, sem mamãe pra dar suporte.
Por esses motivos eu não peguei um filhote ainda. Eu queria o Brandon aqui, mas não tenho coragem de trazer ele pra cá, de submetê-lo a 9 horas de vôo, tirá-lo do conforto que ele já está acostumado há 11 anos pra me fazer companhia? Não consigo ser egoísta e pensar só em mim. Eu penso nele. O conforto dele é em primeiro lugar.
Mas… eu tô dando meu jeitinho. Aqui do lado do meu apê (que é de 1o. andar) tem um telhado. Nesse telhado tem uma família de gatos pretos. Eles não têm uma manchinha sequer. Tudo pretinho. Se eu fosse supersticiosa não poderia morar aqui rsrs
Esses gatos são super arredios, não fazem contato físico comigo por nada (eu já tentei rsr), mas o vitral da minha cozinha é o nosso portal de comunicação. Tem uma gata que tá prenha que fica querendo ver o que acontece aqui dentro de casa, e eu fico miando pra eles, encosto o dedo no vidro, pra ela “tentar” arranhar. Nada se iguala ao prazer de fazer carinho.
Tá vendo só, o que é a carência de um pet?
Olá! Não encontrei o seu nome nesta página… mas fiquei solidária com a situação que você vive, do distanciamento com os seus filhotes. Eu mesma já fui trabalhar no exterior, mas não consegui me afastar da minha cadelinha, que foi junto comigo, e passou por todas as aventuras comigo. Acho que ela preferiu isso a ficar dois anos sem mim, na companhia da minha mãe.
Entretanto, tenho uma sugestão a fazer: mande castrar os seus cães. Não é justo a Menina continuar tendo filhos, é um desgaste para ela e um problema para vocês, para arrumar donos para todos os filhotes que, por sua vez, vão continuar superpovoando este mundo de mais filhotes, com grande probabilidade de serem maltratados e abandonados um dia… desculpe o palpite, mas não compreendo porque não aproveitou para castrá-la na SUIPA, quando foram retirados os tumores. Um abraço, Maria Hedwiges da Silva (Gy) – Brasília, DF