Ontem, pra variar, fazia um dia lindo de inverno em Lisboa, e apesar de ter um cardápio complexo pra fazer pra ceia de reveillón, meu lindo marido me convenceu a dar uma voltinha pelo parque. Não com com um barrigão muito avantajado ainda, tô chegando a meio da espera pra segurar meu baby no colo, e todos os médicos e livros recomendam uma rotina de exercícios leves para todas as gestantes. Porque não ir?
Levámos a Lukinha, pra ela ficar bem cansada e dormir horrores à noite na hora da virada e não ficar tão ansiosa com os fogos, passamos num mercadinho ali na entradinha do parque norte, chamado Pomar da Rosa (um dos poucos comércios locais que oferecem um verdadeiro diferencial em atendimento, produtos e serviços e que não perde clientela para os grandes mercados da região) e compramos algo fresquinho pra beber e um jornal pra ler. Sentámos ali nos bancos da beirinha do rio, e comecei a folhear o jornal. E fiquei pasma.
Um jornal de circulação nacional faz sensacionalismo com a dívida externa portuguesa, faz matérias de como sua vida seria uma “big shit” com a saída do euro, como se fosse certo que isso irá acontecer. Só falam de pequenos comércios tradicionais fechando, do desemprego, da pobreza, das más declarações do primeiro ministro, e praticamente afirmam que o pior está por vir.
Nunca vi na minha vida tamanho pessimismo. Eu sei que no geral os portugueses têm dificuldade de abstrair os problemas e focam demais no presente (que não está nada fácil no perfil económico por conta da dita crise), mas ano novo é vida nova, e temos SEMPRE que torcer e esperar pelo positivo.
Eu sei que sou mais otimista do que a média, fui criada assim, acreditando que tudo vai ser melhor. Não consigo me lamentar por estar viva, com saúde, trabalhando, grávida, num casamento muito feliz. Não posso me lamentar por ter um teto que me aquece, uma cachorra linda e saudável, meus pais bem, meus sogros bem, tenho meus amigos fiéis e leais, as minhas afilhadas estão cada vez mais lindas, inteligentes e saudáveis.
E daí que eu não tenho uma casa própria? E daí que eu não tenho um carro importado, que não tenho um iPhone, que não uso jóias? E dane-se se não ganho uma fortuna com meu emprego (recebo até bem pouco pra ser sincera). A vida não se resume a dinheiro e a bens, é muito mais que isso.
Comentei ali em cima sobre o Pomar da Rosa de propósito, porque acho que é o único mercadinho que consegue se adequar aos tempos de hoje. Os outros é aquela coisa provinciana, e que um bom dia com sorriso no rosto é desnecessário, e que os clientes tem que comprar aquilo que se tem pra vender e dane-se.
No Pomar da Rosa, na primeira vez que lá estive a dona do mercado estava no caixa e nos perguntou se sentíamos falta de algum item em especial. Eu mencionei o Nirá e ela anotou com todo o cuidado e me disse que ia falar com o fornecedor dela, e dois dias depois ela me disse que falou com ele, pediu pro marido dela ir no produtor agrícola que também fornece pra eles os itens verdinhos, mas eles desconhecem. Ela ficou interessadíssima e disse que se eu descobrisse aqui, que lhe dissesse onde.
Isso chama-se: foco no cliente.
As outras lojas e mercados não tem esse cuidado. Por isso acho que esse mercado não vai entrar enfrentar a crise como os demais.
Portugal está numa crise económica, mas não só. Falta criatividade, falta o “se vira nos 30”, falta vontade. Tá sobrando lamentação. O potencial dessa terra é enorme!!! Aqui o clima é gostoso, tem o céu azul mais lindo que eu já vi na minha vida, tem história, tem um litoral estupendo, a sociedade é mais organizada, tem infra-estrutura, mas ao se deparar com uma crise parece que o mundo acabou…
O Haiti teve o terremoto em 2010 e nas filmagens depois da tragédia as pessoas sorriam, as crianças tinham esperanças. Eles sim tinham toda a razão do mundo pra achar que o mundo acabou, mas não se deram por vencidos. E isso é uma grande lição a ser dada em qualquer país que está enfrentando apenas dificuldades financeiras.
O reveillón aqui em Lisboa foi fraco, houve queima de fogos apenas no Parque das Nações, patrocinado por uma cervejaria. A cidade não foi enfeitada pro Natal, não fizeram shows, nada. Pra não gastar dinheiro?? E o retorno do investimento??? Quantos turistas que estão cá vão divulgar e falar bem do espetáculo, recomendar e pro próximo ano teremos mais turistas gastando seu suado dinheirinho em terras lusas? Sem contar que se for um mega espetáculo, vai dar nas TVs do mundo e a publicidade tá feita ;P
Gente, dinheiro não é tudo. Vamos acordar pra vida, Portugal, e mudar essa atitude!!!