Fechar a MAC??

Até há uns dois meses atrás eu estava com dúvidas sobre ter o meu bebê na MAC. Estava insegura sobre o acompanhamento, sobre a segurança de ter meu filho numa maternidade pública, se eu seria tratada como gado, se o corpo médico estaria à altura do que eu preciso pra ter um parto saudável, etc.

Recapitulando: minha gravidez está sendo seguida/acompanhada pela MAC, na consulta de Alto Risco, porque no rastreio bioquímico minha pressão/tensão estava em 14×9, e a médica que fez o rastreio disse que eu teria que ser vigiada por especialistas devido a riscos de patologias associadas à tensão arterial na gravidez. Durante os 6 primeiros meses a única preocupação dos médicos era o meu peso e a minha aparência física, e isso me deixou muito estressada. A verdade é: estou nas tintas (ou “me lixando”, no Brasil) pra minha forma física na gravidez, quero saber se meu filho tá bem, se tá se formando direitinho, saudável, dentro do normal, e não era esse o meu feeling na altura, porque ninguém me perguntava se eu bebia, se fumava ou me drogava, se comia carne mal passada, salada na rua. Só me julgavam por não ser esguia.

Um adendo rápido: o biotipo da nova portuguesa não é o que os brasileiros têm em mente (senhoras gordas com bigode, de saiotes e xale, dançando o vira). As portuguesas são vaidosas ao extremo, o manequim tem que ser no máximo 36, quadril pequeno, pouco busto, cintura fina, pernas finas, peso no máximo 52kg (porque a altura das mesmas é quase padronizada em 1,60m salvo algumas exceções).

Eu, com quase 30 anos de cultura carioca, em que a mulher tem que ser gostosa, com peito, bunda, pernão, e que o peso tem que estar em torno dos 65kg, não me venham incutir do dia pra noite que eu tenho os padrões errados…Era essa a minha principal revolta, tanto que certo dia uma médica (que eu juro que não sei o nome, mas lembro muito bem do rosto e do tom de voz) disse que eu (que apesar de ter engordado apenas 4kg em 5 meses de gravidez) estava maltratando o meu filho por causa do meu peso.

Vamos encarar a realidade: eu não estava magrinha antes de engravidar, e esse também não era meu objetivo. Mas estava longe de ser considerada obesa. E eles queriam saber disso? De jeito nenhum. Daí surgiram as minhas inseguranças sobre a seriedade da maternidade. Cheguei a ter umas dores na pélvis nas 21 semanas, fui parar na emergência e a médica me disse “você está gorda, feche a sua boca ou habitue-se à dor”. Aquilo doeu profundamente no meu ser, principalmente porque eu não conseguia comer nada. Quem me dera comer horrores! Qualquer coisa eu torcia o nariz e a médica que nunca me viu na vida me julga assim???

Fiquei das 22 duas semanas até as 32 sem engordar nenhum grama. 10 semanas com peso estabilizado. E ainda assim estava obesa para o padrão da medicina lusa.

Mas algo mudou.

Após as 32 semanas, voltei a ganhar peso (mas ainda assim dentro do recomendado) e comecei a sentir um acompanhamento mais próximo do que eu esperava. O foco deixou de ser a minha forma física e passou a ser o bebê. Comecei a sentir a barriga mais durinha, o pessoal no trabalho disse que seriam contrações, e então virei cliente VIP das urgências da MAC. Todas as vezes que eu ia lá era atendida com tanta atenção e cuidado, que achei que era sorte. Como pelo menos a cada duas semanas eu aparecia lá, vi que era um padrão. Eles levam a sério as grávidas de mais tempo. As que acabaram de engravidar talvez sejam encaradas como exageradas por estarem ali, principalmente pelas médicas mais velhas.

As enfermeiras eram super simpáticas e atenciosas, e eu sempre dizia sem exageros o que eu tava sentindo, e reforçada “não sou uma pessoa exagerada, não estou aumentando nada”. E tudo sempre correu muito bem e nunca mais ouvi nada sobre o meu peso. Nem mesmo quando um belo dia fui às urgências com a pressão 15×10.

Lembrei da altura em que a médica do rastreio bioquímico disse que eu poderia ter alguma patologia associada à hipertensão, mas achei que poderia ser apenas coincidência, pq estava nervosa no dia do exame.

Fizeram diversas análises (sangue, urina, CTG, ultra), e estava tudo bem. Nada que justificasse a hipertensão.
No dia seguinte eu tinha consulta, e a pressão continuou alta. Me passaram medicação (Metildopa 250mg, 2x ao dia).

Continuei com a pressão alta, a dose foi aumentada pra 3x ao dia. Depois continuou alta, e aumentaram a dose da noite, para 500mg. E neste final de semana minha pressão foi para 16×11.
Nas urgências fui atendida com toda a atenção e preocupação, repetiram todos os exames novamente (que já tinham feito há 4 dias) e descartaram qualquer anomalia para o bebê ou qualquer patologia mais grave.

A parte positiva de estar sendo seguida na MAC? Tenho todo o meu histórico ali. Qualquer médico que me atenda nas urgências sabe tudo o que aconteceu comigo, tudo o que foi feito desde a primeira vez que lá estive, tem acesso a todos os meus exames sem duvidar da procedência do laboratório (porque é tudo feito por eles mesmos). Apesar de não ter uma médica pra mim, tenho uma junta médica que é coordenada pela dra. Ana Campos, a “bambambam” em hipertensão na gravidez e chefe do serviço de GO da MAC. Já devo ter sido atendida por ela pessoalmente, mas como as médicas não têm o hábito de se apresentarem, não tenho certeza.

Depois que o primeiro ministro anunciou o fechamento da MAC, alegando que é uma maternidade obsoleta e que não se justifica um hospital daquele tamanho em funcionamento (?????)… concluí que o PM é um bundão.

Aquela maternidade vive cheia, atende casos de risco e alto risco, gravidez gemelar, diabetes, casos de infertilidade, menopausa, gravidez de adolescente, etc. Como assim não justifica??

Encontrei na internet um blog que fala e ilustra a razão do fechamento. É meramente político porque um novo hospital público, de gestão privada, inaugurou recentemente. Fizeram até uma capa de revista brincando com a situação (ótima capa de revista, por sinal).

Diversas campanhas para mudar esta decisão de fechamento da MAC têm sido feitas. Já abraçaram a MAC, já distribuiram gérberas para manifestantes, já foi feito piquete…
A próxima será na 6a. feira, em que irão encher um balão (daqueles e aniversário) para cada criança nascida em 2012 (até hoje eram 2023, cerca de 13 por dia).

Eu ouvi na maternidade essa semana que vai ter uma nova manifestação sindical pra 2a semana de junho.
Existe também uma petição online contra o fechamento da MAC.
No Facebook há uma página chamada Amigos da MAC, que hoje tem apenas 713 likes, muito pouco pra quantidade de pessoas que são atendidas diariamente por lá.

Somente no Alto Risco são em média 70 grávidas por dia. Considerando que a maioria delas vai à consulta a cada 3 semanas, estamos falando de no mínimo 1000 grávidas a serem acompanhadas por um único departamento. Não faço ideia dos outros departamentos lá dentro, mas imagino que seja mais ou menos o mesmo nível.

Não podemos permitir que o sistema de saúde português fique sucateado como o brasileiro. Aqui as coisas funcionam muito bem no setor público, e até agora o PM fez apenas aumentar as taxas moderadoras, fechar urgências e blocos de parto, fechar centros de saúde. A taxa moderadora do serviço de urgência, na legislação passada (José Sócrates) era de 7€. Agora na legislação atual (Passos Coelho) é de 20€.

Os planos de saúde são co-participados, e além de pagar a mensalidade do plano, qualquer serviço a ser utilizado tem uma franquia. Alguns, por exemplo, cobrarm 7,5€ por consulta.

Diante disso, você realmente acha que a Alfredo da Costa está obsoleta (sendo a maior referência em neonatologia lusa) ou você também concluiu que trata-se de jogada política?

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