Meu (traumático) parto – Parte II

Já tem mais de 2 anos que isso aconteceu, e fiquei de escrever sobre isso para contar o restante da história.

Confesso que hesitei muito, porque era muito doloroso lembrar-me em detalhes do que passei. Como estou na contagem regressiva para o meu 2º parto (que dando tudo certo acontecerá em Dezembro), achei que era o momento de falar sobre o que aconteceu.

Terminei o primeiro post com o momento da “expulsão” do meu filho, o uso de fórceps, ventosa, o corte que me foi feito quase que a sangue frio, e o pedido de desculpas da obstetra a mim, e o meu a ela.

Assim que o Tuco nasceu, eu meio que desmaiei. A anestesista ficou desesperada porque tinha me dado doses cavalares de anestesia, mas eu estava exausta. Foram no total 16h de trabalho de parto, 3h ininterruptas fazendo força, mais de 10h com muita dor. Ela me sacudiu, eu abri os olhos, vi o meu filho rapidamente de relance,  e senti que algo se passava lá na “área de lazer”. Estavam fazendo a sutura da episiotomia. Fiquei ali mais uns 15 minutos, e uma enfermeira disse-me que meu filho iria ficar nos Intensivos junto com os pré-maturos, apenas porque eu tinha que ficar no recobro.

Eu fiquei aliviada, porque com tanta anestesia não conseguia mexer nada além da minha cabeça e mãos. Fiquei completamente paralisada. Os enfermeiros chegaram para me mudar para uma maca mas eu não conseguia me mexer. Depois de me mudaram para a maca, levaram-me para uma sala de recobro, e eu dormi profundamente. Depois conversando com o meu marido sobre esse dia cheguei à conclusão que tinha ficado cerca de 1h ali no recobro, mas a sensação que tive é que foram no mínimo 5h.

Fui depois levada de maca para a enfermaria, que estavam outra 5 mães e seus respectivos bebês e 3 outros leitos vazios. Não via a hora de ver meu filho e pegá-lo no colo, que trazê-lo pra perto de mim e cuidar dele, amamentar, trocar fralda, dar “banho”… Tudo o que me foi dito que eu deveria fazer quando visitei a maternidade.

Chamei a enfermeira para me levar ao berçário (não podia ainda andar sozinha devido à anestesia) e ela me pôs numa cadeira de rodas e me levou até lá.
Apesar da enfermaria que eu estava ser uma pocilga e o banheiro ser um verdadeiro antro de bactérias com imundície e mau cheiro (sanitários imundos cheios de sangue, box sem portas com absorventes cheios de sangue jogados no chão, fezes nos cantos, sangue nas paredes), a unidade neo-natal era impecável. Tudo novinho, com armários para os pais guardarem o que quisessem, sistema de higienização e desinfecção das mãos e braços, equipamentos novos, incubadoras 100% novinhas, e os consumíveis dos bebês (fralda, leite artificial, produtos de higiene) de primeira qualidade e roupinhas todas higienizadas e livre de bactérias. Tudo pra garantir um crescimento saudável dos bebês que ali estavam. Me deu um grande alívio.

Quando eu falei com a enfermeira que eu era mãe do menino que nasceu a tal hora ela me levou até a incubadora dele. Eu tava em êxtase! Ia finalmente ver meu filho! E quando cheguei ali, e olhei pra ele, e o primeiro instinto é pegá-lo no colo. Eis que me aparece uma enfermeira super mal encarada e diz: “não podes pegar no seu filho, ele está a sofrer muito”.

Meu chão sumiu. Como assim ele está sofrendo? O que fizeram com ele???? Ele tava tão bem aqui dentro, resolveram induzir o parto, não fizeram uma ecografia/ultra antes de me mandarem fazer forçam usaram ventosa e fórceps, e ele está sofrendo?

Minha vontade era quebrar o hospital inteiro, mas o que eu conseguia fazer era chorar. E comecei a me questionar o porquê daquilo tudo ter acontecido.
Meu filho foi colocado em sofrimento e eu não fiz nada pra evitar aquilo. Ele tinha o olho rasgado no cantinho, uma bossa serossanguínea imensa no alto do crânio, couro cabeludo machucado, testa amassada, maxilar machucado. E gemia de dor. Tão pequenino e indefeso. E a culpa era minha.

Não é drama, é exatamente essa a sensação que eu tive. Ele foi muito bem cuidado nos 4 dias que lá esteve, e só teve alta depois que fez uma ecografia/ultra na cabeça pra ter a certeza que não havia nenhum dano.

Imagina, 40 semanas de gravidez com um bebê super saudável pra ele vir a ter sequelas do nascimento. Quando o meu marido veio ver o nosso filho, éramos os dois a chorar e com vontade de quebrar o hospital inteiro.

Eu mal ficava na enfermaria, só ia la em cima pra tentar descansar (impossível, porque eu só chorava), passar a noite e tomar o café da manhã. A comida era horrível, gordurosa e mal cheirosa. Cheirava a comida velha. Não fui vista por nenhum médico ou enfermeira. Todas as vezes que interagi com alguém foi quando eu tive a iniciativa de ir até a sala das enfermeiras. Uma delas teve a audácia de dizer que eu só vivia perambulando pelo hospital . E eu, que já tinha perdido a paciência com o hospital desde que vi o meu filho na incubadora, respondi-lhe “não, querida. Tô ao lado do meu filho que está na incubadora todo machucado por causa do que lhe fizeram no parto. Não tenho o que fazer aqui na enfermaria”. Ela engoliu a seco. No turno seguinte veio uma enfermeira muito legal e esperou até eu aparecer ao final da tarde pra conversar comigo. Não me examinou. Perguntou como eu estava, do que precisava, se sentia dores. Lógico que eu sentia! Arrancaram meu filho de mim a ferro e me cortaram imenso! Tudo doía. Mas doía mais saber que ele estava em sofrimento. Então ela perguntou se eu queria ir embora pra casa, eu disse que sim. Me deu analgésicos, gelo pra aplicar no lugar da sutura, mandou trazer pra mim iogurte e pão. No dia seguinte eu tive a minha alta: um papel deixado na mesa de cabeceira o meu leito.

Ir pra casa sem o meu filho foi… nem sei se existe palavra pra explicar. Consegui dormir. Consegui me alimentar. E na primeira hora da manhã fomos correndo pra maternidade. E ficamos lá o dia inteiro. Uma enfermeira incrível estava responsável pelo meu filho e ela me tratou com humanidade. Me ensinou a amamentar, mesmo eu sem ter colocado ele ao peito uma única vez. Insistiu comigo. Me ensinou a trocar as fraldas, a dar banho, a vesti-lo.

No dia seguinte, viemos pra casa. Finalmente!
Foi muito sofrido emocionalmente isso tudo. Meu filho, graças a Deus, é super saudável, espertão, fala tudo, coordenação motora excelente, canta, dança, joga bola como eu nunca vi uma criança da idade dele jogando, brinca com tudo, conta histórias… Ou seja, uma criança perfeita.
Óbvio, faz birras, faz dramas, desobedece, apronta mil e uma coisas, afinal, é uma criança. Mas para o que ele passou, meu medo era que ele não conseguisse falar, ou entender, ou enxergar (ficou com derrame ocular por quase um mês).

Consegui amamentar com muita dedicação e insistência.

Tive alguns problemas ginecológicos em decorrência de epsiotomia, mas ainda estou a espera de um diagnóstico. O importante é que não é grave porque não me deixou estéril, apesar do desconforto constante que sinto. Quando tiver mais informações, tento trazer pra cá o assunto. Quem sabe descubro por aqui, com outra grávida, o que pode estar acontecendo comigo?

Por agora vou desejar a mim e a todas as outras grávidas uma hora pequenina, que Nossa Senhora do Bom Parto nos proteja e que nós tenhamos mais fé nos nossos instintos sempre. Se não estiver segura de algo, fale. Não faça como eu que me calei. Tive muita sorte, mas conheço pessoas que não tiveram.

Um pensamento em “Meu (traumático) parto – Parte II”

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