Uma das coisas que mais me irritam aqui em Lisboa é a falta de opção para algumas coisas.
Existe um “gap” na área da cultura e lazer, mas o que bate o record é a falta de oferta na área da alimentação. Sim, isso mesmo!
Não estou dizendo que Lisboa não tem um lugar pra se comer. Ou que restaurantes são raridade. Pelo contrário! Tem muito. Mas o potencial é subestimado. E você me pergunta: “subestimado? Como assim?”
Eu explico:
Você está no centro de Lisboa. Não me refiro ao Rossio (centro histórico), mas ao centro de negócios, onde ficam as empresas, como o Largo da Carioca. Você quer comer num restaurantezinho ali na esquina ou num café que sirva refeição. A primeira coisa que salta aos olhos é a falta de variedade, porque certamente o menu de qualquer desses lugares vai ser:
- Bitoque (bife a cavalo)
- Febras/plumas de porco
- Arroz de… (feijão, ou peixe, ou pato, ou marisco, ou tamboril)
- Pataniscas de bacalhau (não se engane, não é bolinho de bacalhau)
- “alguma coisa” à portuguesa, à alentejana ou à transmontana (feijoada, cozido)
- Bifinhos de peru
- “alguma coisa” de vitela (que significa que é carne de vaca, mas esquece o filet mignon)
- Alguma coisa do mar grelhada ou assada
Duvida?
Os acompanhamentos geralmente variam de uma a duas opções:
- batata cozida (servida inteira ou cortada na metade)
- cenoura cozida (inteira ou cortada na metade ao comprido)
- brocolis cozido
- arroz
- migas
- batata frita
- grelos
- esparregado
A apresentação do prato nesses lugares é uma tristeza.




Algumas vezes temos que esquecer o visual e concentrar no sabor. Às vezes dá certo e a experiência é boa. Às vezes,
Além destes detalhes que já te deixariam um pouco em dúvida sobre entrar no tal recinto para fazer uma refeição, tem um outro problema: Se estiver a procura de um lugar na rua para comer às 15h, esqueça. Os restaurantes fecham. Inclusive aos fins de semana. A sua alternativa era ir ao shopping.
E aos fins de semana eu não almoço às 13h. Ou às 14h. Eu saio de casa para depois das 15h e devo chegar em algum lugar às 16h. Mas será que sou a única? Talvez… Vamos para o shopping e… Oops! Praça de alimentação/restauração cheia. Ok,não sou a única.
Então, depois de estar completamente saturada de comer nas redes de food, fast food e not-so fast food, descobrimos um lugar fantástico: O Mercado do Campo de Ourique.
Fomos visitar e nos encantamos. E o mais legal: lotado!!!!!! E lotado a qualquer hora do dia!
Onde essa gente toda ia comer antes?




Cerca de uns 6 meses depois descobrimos que ia acontecer uma remodelação semelhante no Mercado da Ribeira. Mas esse ia ser um espaço maior, e patrocinado por uma revista.
Assim que inaugurou, fomos lá. E pra surpresa geral (inclusive dos 5 Chefs que assinam 5 tascas), a procura por refeições fora do horário habitual foi massiva.
Às 16h, filas para comer, dificuldade de encontrar lugar pra sentar.
Ok, poderia ser o frisson da novidade, mas não. Hoje consegue-e lugar para sentar e enfrenta-se menos fila entre as 15h e as 17h30, mas continua cheio.

A oferta gastronômica em ambos mercados é muito variada. Há bitoque e febras? Sim, lógico que há. Mas há muito mais que isso. Carpaccio, croquetes, tartar, bifes, pregos gourmet, hamburgueria gourmet, receitas tradicionais repaginadas pelos chefs, ostras, mariscos, e muita variedade de bebidas alcóolicas.
Encontrei um site que faz uma apresentação sutil na véspera da abertura do Mercado da Ribeira
Diante de toda essa exposição, eu pergunto: como os donos de restaurantes se sentem no direito de reclamar de crise? Enquanto não houver uma reinvenção dos pratos, apresentação, acompanhamentos, os clientes vão sim procurar outras opções.
O problema é que estas casas tradicionais são geralmente o negócio da família. Mas a família, em vez de gerir um negócio, gere um restaurante e subestima o potencial que aquele espaço, aquela cozinha tem.
Acredito que alguns queiram manter acesas as tradições gastronomicas de Portugal. Eu acho que fazem muito bem. Mas uma cenoura inteira num prato assusta. Não custa nada cortar aos cubinhos ou em rodelinhas, em palitinhos. É possível reinventar a apresentação do prato sem alterar o seu sabor. E para os que usam gordura de porco pra fazer até frango grelhado (é sério, em alguns cafés até o frango é “grelhado” numa frigideira com banha de porco), está na hora de pensar na seriedade que é apresentar um prato desnecessariamente gorduroso ou requentado.
Existe mercado. Existe procura. Existe potencial. Não subestime Lisboa. Não subestime Portugal.
Tiraste as palavras da boca!
Entre amigos já tinha comentado isso, como é possível que na
capital do país não se consiga comer depois das 14h?!
Quando estive no Rio de Janeiro fiquei fascinada com a quantidade
de restaurantes abertos fora dos horários “ditos normais”.
E tens toda a razão, devido à crise deviam adaptar à nova realidade
tanto na confecção dos pratos como nos horários-
As opções desbotadas das fotos me assustaram! Vou passar férias em Lisboa em Outubro e pensei que ia me deliciar com a comida portuguesa! Uauuuuuuuu que triste!!!
Hahahaha
Carmelinda, se quiser ir nos restaurantes “tradicionais” vai ser inevitável encontrar as aberrações que citei.
Mas nem tudo é ruim! É só feio 🙂
Definitivamente eu recomendo muito o Mercado da Ribeira. É mesmo fantástico e você tem o tradicional português repaginado pelos chefs portugueses, garantia de sabor e preço de praça de alimentação de shopping 😉
Divirta-se em Lisboa! Espero que goste muito!
Bjs