Um menino na praia. As ondas tocam a sua pele.
Três anos de idade. Essa deveria ser a realidade para todos:

E talvez seja por isso que eu não consigo deixar de pensar naquela foto (que não será aqui reproduzida). Não consigo deixar de pensar no sofrimento que deve ser para um pai saber que seus filhos não vão mais sorrir.
Eu sou imigrante. Saí da minha cidade porque não consegui viver no meio da guerra silenciosa que estava o Rio de Janeiro.
Não somos refugiados, mas foi na Europa que encontrei refúgio. Tiroteio todos os dias, mortes todos os dias, assaltos a toda hora. Medo constante.
Percebi que aquilo não ia mudar e pelo contrário! Ia apenas piorar. E tive a possibilidade de sair do caos.
E agora, que a situação econômica em Portugal não está lá essas coisas, e que colocou em risco a qualidade de vida que eu poderia prover aos meus filhos (educação, saúde e cultura), viemos para o Reino Unido. Ou seja, para garantir o melhor para os meus filhos eu os tirei da cidade que eles nasceram.
Impossível não me sensibilizar com a foto de uma criança da idade do meu filho que não tem o direito a uma vida sem medo, sem violência. E agora essa criança não tem direito a vida.
Me assusta o egoísmo de tanta gente dizendo que o Reino Unido já tem problemas a mais. Que aquelas pessoas que estão sendo forçadas a abandonar as suas casas em busca de viver mais um dia não podem vir para a Europa.
Me assusta ver que políticos tenham um pensamento tão retrógrado. Um alega “valores cristãos” para justificar suas omissões. O outro diz que o menino estava bem vestido e bem alimentado, e que ele morreu porque seus pais foram gananciosos pela boa vida na Europa.
Se a ignorância ficasse apenas nestes dois seres humanos eu diria que é uma questão de orientação política. Mas quando vemos comentários assim, eu perco a fé na humanidade.
Passei boa parte do meu dia lendo e respondendo a pessoas que pensam como esta tal de Pattie. Ela simplesmente concorda com a posição do tal de Peter Bucklitsch, e que o menino se afogou por culpa dos seus pais “imbecis”.
Dentre várias mensagens de ódio, também li algumas de compaixão. E uma em específico explica perfeitamente o porquê daquele pai ter tentado atravessar o oceano com sua família:
“Ninguém irá colocar sua criança num barco a não ser que a água seja mais segura que a terra.”
Não consigo parar de pensar que uma criança teve seu destino lavado pelas ondas, que são o motivo de alegria para tantas outras crianças.
Que nunca mais uma criança passe por isso.
Rest in peace, Aylan Kurdi.
Aquela foto me marcou tanto (tenho dois filhos da mesma idade dos irmãos que morreram naquela praia turca) , que até hoje não consigo mais vê-la… Esta frase que vc colocou ai, diz tudo… “Ninguém irá colocar sua criança num barco a não ser que a água seja mais segura que a terra.”
Boa tarde, estou lendo algumas postagens do seu blog pois estou em pesquisa sobre Manchester, já já devo enviar alguns e-mails com duvidas. Gostei da postagem “Um menino na praia” e vou deixar para você uma msg que li hoje. (…)seus filhos desfrutarão suas conquistas. Eles também arcarão com as consequências de seus medos, omissões e fracassos não superados.