Desculpem a ausência, mas tem sido intenso na vida real.
Como sabem, não moro em Portugal desde 2015, voltei ao Brasil em 2016 e em 2017 mudei-me para Curitiba, PR. Já não estou a par em detalhes sobre o custo de vida em Portugal e por isso tem sido difícil responder a todos os e-mails que recebo, porque preciso fazer pesquisas pra dar uma resposta mais acurada, e isso dá um certo trabalho… Não fiquem tristes comigo caso não tenham recebido uma resposta ainda.
A imagem de destaque deste artigo é uma cena do filme Samba, interpretado pelo maravilhoso Omar Sy, o mesmo ator de Amigos Improváveis, que conta a história de Samba, um imigrante senegalês que vive há 10 anos na França e foi preso por estar em situação ilegal, julgado e condenado a ser deportado. É um bom título, recomendo que assistam, e ele conta a realidade de muita gente pela Europa.
A maioria dos questionamentos que recebo é sobre o custo de vida em Lisboa, se dá pra arrumar emprego, se dá pra morar barato, se dá pra ganhar dinheiro. A resposta é: não, não e não.
– “Mas como assim, Carol??? Você nem sabe da minha capacitação profissional, eu sou esforçado(a), trabalho duro!”
Não duvido disso nem por um segundo! Mas uma coisa é fundamental pra dar o primeiro passo: estar legalizado.
– “Mas eu tenho passaporte!”
É europeu? Não? Então você tem em mãos apenas um documento de viagem, e não uma autorização para viver em outro país.
– “E isso é necessário? Não posso chegar lá, arrumar um emprego e tentar depois o visto? Um conhecido do primo do meu vizinho conseguiu assim!”
Algo me diz que o conhecido do primo do seu vizinho está omitindo ou inventando alguma coisa, porque sem carta ou autorização de residência ou visto para trabalho não há empregador formal que te dê uma oportunidade porque existem Leis, e lá o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) multa bem pesado quem empregar pessoas que estão em situação ilegal.
Por quê eu estou tocando nesse assunto dessa forma? Porque, como sempre digo no final dos meus e-mails e posts, eu quero que dê certo a sua tentativa de ir viver em um outro lugar. É um investimento emocional e financeiro imenso – e eu sei disso.
Eu sofro junto quando recebo uma notícia de que não deu certo e teve que voltar. Portanto, antes de pensar em pegar o próximo avião e tentar a vida em outro país, reflita sobre o seguinte:

Já imaginou a frustração de chegar lá no guichê do agente do SEF e ouvir que não tem a entrada autorizada?

“Sem conseguir mostrar que são meros turistas ou muitas vezes até com passaportes falsos, brasileiros são barrados nos pontos de entrada da Europa, principalmente em Portugal, na Espanha, na Inglaterra e na França.” Trecho do link do artigo acima.
Mas caso você consiga entrar, se passando por turista, tá tudo resolvido? Não.

Segundo essa matéria do Estado de São Paulo, divulgado acima pela Gazeta do Povo, de Julho a Setembro de 2017, o relatório da Frontex (agência que regula as fronteiras da União Europeia) aponta que “um número significativo de recusas de entrada foi emitido a albaneses na Itália (826), brasileiros em Portugal (312) e colombianos na Espanha (347)”. Acrescentam ainda que a nacionalidade brasileira está na lista top 10 das mais visadas, com 200 casos a menos que os sírios.
Pessoal. Vejam bem os números.
Eu sei que existe a frustração sobre tudo o que está acontecendo no Brasil neste momento. Leis trabalhistas, reforma da previdência, lava jato deixando um monte de carro sujo no meio do caminho (alguém entende como a mulher do Cunha tá em liberdade????), violência no Rio de Janeiro, gasolina lá em cima, já não são mais 20 centavos, etc. Mas será que largar tudo e ir pra um outro país é a solução? Será que é o que você tem que fazer agora? Será que é o que você pode fazer?
Existem várias formas de conseguir entrar em um país europeu sem ser um cidadão europeu. Bolsa de estudos ou intercâmbio, carta convite de cidadão europeu (não é garantido, mas é um “plus”), visto de trabalho, visto D7 (aposentados brasileiros que podem transferir a renda para Portugal), visto Gold (350mil euros para investimento em pequenas e médias empresas, ou 1 milhão de euros para deixar na poupança lá).
Devem existir outras formas, mas certamente não é chegando lá apenas com passaporte, dizendo que veio a passeio e tentar arrumar emprego. Essa realmente não vai dar certo.
Eu fui para Portugal porque meu marido é português e eu tenho direito a residência por ser casada com um cidadão de um estado membro da UE. Mas eu fui documentada, com certidão de casamento averbada em Portugal, passaporte válido por 5 anos (na época era isso), com dinheiro para nos mantermos por 6 meses. Marido conseguiu emprego logo a seguir e eu dei entrada na minha autorização de residência no SEF e mesmo com a minha carta de residência papel de pão (é um documento de papel bem feio) levei um ano pra conseguir emprego, e esse foi a recibos verdes (semelhante ao RPA).
Não é fácil mesmo (sem contar o lado emocional). Ilegal, é impossível. Você coloca em risco a sua própria segurança e bem estar porque fica vulnerável a vários espertalhões com soluções mágicas pra te “legalizar” no país, além do que trabalho escravo existe (não é o mesmo da Luislinda Valois!) e você precisa demais de dinheiro que vai acabar se sujeitando a qualquer (=pensa em algo criminoso pra interpretar esse qualquer) coisa, e não é para isso que você tem vontade de sair do Brasil, certo?
Nota: não faço processo de cidadania, não tenho nenhuma relação com despachantes e não recomendo o meu advogado. Não conheço todas as leis, e meu objetivo é ajudar quem precisa de luz para o desafio da imigração legal.
Um pensamento em “Dá pra imigrar sem “documento”?”