Eles não precisam de brinquedos

E finalmente fizemos nossa primeira viagem de férias!!! Destino aqui do lado, econômico: Buenos Aires.
Uma cidade que há muito eu quero conhecer e agora consegui resolver essa pendência comigo mesma!
O grande lance é: estamos super acostumados a fazer turismo desbravador só nós dois, mas… como será que vai ser com duas crianças??

Já esperávamos alguma resistência ou outra do Tuco e da Liv pra fazer caminhadas pela cidade, portanto planejávamos tudo sempre com um shopping por perto – pra eles sentarem, irem ao banheiro, descansarem um bocado pra depois retomarmos nossa rota – e lá se iam 2 a 3 horas diárias de passeio. Mas ok, ficamos 15 dias porque já sabíamos que ia ser lento.

Lá para o 5º. dia de viagem eu já estava perdendo a paciência com as reclamações da Liv. Mal saía do hotel e já pedia colo ao pai. Estava um calor absurdo, cerca de 38ºC com sol latente, Tuco começou a reclamar com voz de criança de 3 anos, eles já não aguentavam mais nada, e nem eu aguentava mais tanto choramingo.

S – u – r – t – e – i. Mas não perdi a compostura.

Mal tínhamos começado o dia, estava perto das 14h, parei a família no meio da rua, pedi silêncio e atenção para fazer um anúncio, em tom bem sério: “Chega! Todo mundo pro hotel, sem televisão, sem telefone, sem brinquedo. Vão passar o resto da tarde no quarto pra descansar e pensar na chatice que é ficar sem fazer nada”.

Meu objetivo era bastante simples: queria que eles ficassem de saco cheio por estarem sem fazer nada, implorassem pra sair e eu usaria isso como trunfo para os lembrar que não podem reclamar andar pela cidade porque ficar sem fazer nada é muito pior.
Plano perfeito, se não fosse pelo impensável: Eles deram o jeito deles de brincar, com a imaginação.

A cortina do quarto virou um portal, o maleiro ao lado do frigobar virou uma nave espacial (pelo menos eu acho que foi isso, já que eles entravam lá pra se transportar para outro lugar imaginário), a varanda do quarto era onde eles combinavam as missões, o banheiro virou esconderijo, a garrafa de água virou telefone, um livro virou um monitor intergalático.

Confesso que fiquei frustrada e feliz ao mesmo tempo, porque achei que conhecia os meus filhos e tinha a certeza que meu plano maléfico (muuuaaaahhhhh) daria certo, e quando os vi brincando bem, se dando bem, sem brigar (irmãos brigam, nem que seja de vez em quando e não necessariamente tem agressão física), se divertindo juntos, me senti tão feliz! E cheguei a conclusão que eles não precisam de tantos brinquedos assim porque eles conseguem fazer do nada uma brincadeira.

Nos dias a seguir eu percebi que eles estavam se divertindo mais sozinhos (sem a gente sugerir “brinquem vocês os dois”) tanto na rua quanto no hotel, reclamaram menos de caminhar, e até quando dávamos tempo com o telemóvel eles brincaram juntos, sem disputas.

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E isso nos fez refletir. Temos o infeliz hábito de dar presentinhos (coisinhas super baratinhas) sempre que dá vontade, e isso acontece quase que semanalmente, mas em prol de um mundo mais sustentável (como se gasta com embalagem nesse mundo infantil!), mais econômico e mais lúdico, estamos resistindo à tentação de mimar materialmente as crianças.

Pra além disso, a conclusão final foi: mesmo com tantas pesquisas que tenho feito sobre educação e o impacto da tecnologia no dia a dia das crianças até os 11 anos de idade, é muito difícil tirarmos dos nossos filhos esse “acalmador”. Mas dá para reduzirmos e controlarmos o tempo e oferecer a eles tempo de ócio, sem nada para fazer, para que a criatividade deles respire e aflore no meio de tanto estímulo digital.

Mas sejamos honestos: pra gente é prático, né? Enquanto eu estou aqui escrevendo, o mais velho está vendo como fazer slime no YouTube Kids na sala, a mais nova está brincando no quarto.

Algo tipo “casa de ferreiro, espeto de pau”, eu sei… mas é bem mais fácil falar do que fazer. O que temos que fazer é reconhecer esse erro e pelo menos tentar mudar isso, porque de fato prejudica a concentração, a criatividade, o desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças. Eu tento. Custa, demanda mais atenção e paciência, mas eu tento.

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