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A vida é um fio

Olá, mundo!

Ontem estava conversando com meu marido sobre diversas coisas, entre elas sobre as nossas inúmeras pesquisas pra morar em outro lugar. Veja bem, estamos felizes aqui, eu realmente estou no lugar que me sinto bem e feliz – apesar de todas as dificuldades que é imigrar e viver num país europeu em crise – mas temos essa mania de pesquisar a vida em outro lugar (custo de moradia, alimentação, educação, saúde, empregos, etc).

Claro que já pesquisamos antes com aquele ar de “quem sabe?”, mas às vezes é mesmo pela curiosidade. Acho que temos um lado nómada dentro da gente e honestamente, se eu ganhasse na Euromilhões certamente não iria gastar o dinheiro comprando coisas, mas vivendo coisas, e certeza que não ia ser num lugar só 😀

Nessas lembranças das pesquisas que já fiz lembramos de um leitor aqui do blog que acabou por se conectar comigo no mundo real e ele sempre (sempre mesmo) me deu força pra voltar pra Portugal. Ficámos amigos nas redes sociais, ele dava altas dicas sobre diversos destinos de turismo e quando as coisas não estavam boas pra gente, ele tentou nos ajudar no que fosse possível, deu dicas de emprego, entregou o currículo do Sergio pra uns contatos em IT, nos orientou até com uma possível mudança pra Suíça.

A rede que nos falávamos era aquela com F, e eu honestamente deixei de lá ir faz tempo. E como falávamos das pesquisas de mudança e tal pensei “Eh, pá! Por onde anda o Rubens? Vou lhe mandar um Olá”.

Desadormeci a rede e não vejo publicações dele desde 2021. Ele não era de publicar tanto, mas honestamente mais de um ano sem publicar era um bocado esquisito. Sei que ele tinha uma filha já adulta e fui pesquisar pelo nome da menina e… Confirmou-se o que eu temia.

Rubens era um querido. Sempre que nos falávamos vinha com palavras de apoio, sempre nos afirmando que tudo ia dar certo. Nunca nos vimos, o que é uma pena. Mas nos falámos depois que voltei pra Portugal. Ele tinha dois filhos um pouco mais velhos que os meus e uma filha mais velha que era o maior orgulho da vida dele. Ele vivia na Suíça e encontrou meu blog quando pensou em vir pra Portugal quando se aposentasse. Acabou por ficar mesmo em Genéve, porque a Carol (minha xará), esposa dele, conseguiu um emprego bem legal e pronto. O que tem que ser tem muita força.

Ele voltou a Portugal algumas vezes a passeio, e sempre que cá vinha me mandava mensagem a dizer que iríamos nos encontrar quando ele viesse de novo depois que eu voltasse pra terrinha.

Acho que nem ele sabe como era querido por nós aqui de casa, meu marido se refere a ele como “o meu amigo da Suíça”. A última vez que falei com ele foi ainda na pandemia, depois que ele fez uma cirurgia ao coração, e já estava em casa, a se recuperar, no meu primeiro dia de emprego.

Eu confesso que as necessidades do dia a dia me atropelaram. Crianças, escolas, necessidade urgente de arrumar um emprego (e veio mesmo a tempo, ufa!), casa, mudança de casa, mudança da escola das crianças, adaptação das crianças, chegada da sogra… E eu mais uma vez me fechei pro mundo (a crise política e humanitária no Brasil também me consumiu) e deixei o blog de lado entre tantas outras coisas e pessoas.

Hoje, sabendo que ele se foi, fico pensando na efemeridade que é a vida. Qual é o nosso tempo? O que faremos enquanto aqui estivermos? Valerá a pena? Que marca deixaremos? E será que queremos deixar marcas?

Este post é uma homenagem singela à energia boa que o Rubens compartilhava com quem ele sequer conhecia, e ele sempre me deu forças pra seguir o meu coração e os meus sonhos.

Faço o mesmo com você, caro(a) leitor(a). Qual é o seu sonho? O que seu coração diz?

Vai com tudo. A vida é um fio. Não espere pelo momento perfeito para viver aquilo que seu coração anseia.

Retornar a Portugal

Resumo para quem chegou agora aqui pelo BanhoDeChuva: prazer, me chamo Carol, casei em 2006, fugimos da violência carioca em 2008, destino Lisboa, criei esse blog, tivemos um cão, dois filhos, perdemos o cão, em 2015 fomos pra Manchester, deu tudo errado, em 2016 voltamos pro Rio, arrependimento imenso, em 2017 tentamos fixar raízes em Curitiba e o coração não sossegou até voltarmos para o lugar que mais amamos no mundo no final de 2019.

Mas por que, Carol?

É… gostaria de ter mais dificuldade em responder isso, mas foram tantas motivações que até me assusto ao me dar por isto. Enumero abaixo as razões que se acumularam, não que elas tenham acontecido exatamente nesta ordem:

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Eles não precisam de brinquedos

E finalmente fizemos nossa primeira viagem de férias!!! Destino aqui do lado, econômico: Buenos Aires.
Uma cidade que há muito eu quero conhecer e agora consegui resolver essa pendência comigo mesma!
O grande lance é: estamos super acostumados a fazer turismo desbravador só nós dois, mas… como será que vai ser com duas crianças??

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A arte de procrastinar

“É um procrastinator!” – dizia a tia do meu marido para quem deixava tudo para depois com a eventual frase “depois eu trato disto”. Portuguesa de nascimento, americana de passaporte, sempre misturava as duas línguas em suas frases (e também na caixinha de receitas que eu, muito orgulhosamente, herdei). Ela sabia que o “depois eu faço” significava “não vou fazer tão cedo”. Continue a ler A arte de procrastinar

À deriva. Drifting away.

Ano: 2015.
Dia: o último dele.
Este ano que começou levando embora a minha Luka e termina me tirando sonhos.
Ano que me tirou de Portugal.
Ano em que meus planos em Manchester não foram pra frente.
Ano que tive que me sentir completamente a mercê de um mundo capitalista sem poder fazer absolutamente nada em relação a isso.
Ano que entendi porque a Inglaterra é um dos melhores lugares pra se viver e porque todo mundo quer vir morar aqui, e as consequências disso. Competição com a fasquia elevadíssima, somos mais um no meio da multidão.

Ano que terminou sem me deixar fazer planos.
Ano que se vai sem deixar saudades.

Meu desejo para 2016?
Seja melhor.
Seja melhor que 2015.
Seja mais feliz do que 2015.

Meu desejo para as pessoas em 2016?
Sejam melhores que vocês eram em 2015.
Sejam mais felizes que em 2015.
Reclamem menos do que não vale a pena. Reclamar do calor não vai resolver. Reclame que não há ar condicionado em transporte público. É mais coerente. Não reclame que o sol tá rachando o côco. Reclame que a rua não é arborizada.

Faça valer o seu direito de reclamar pelo seu bem estar e pelo bem estar do próximo.

Desejo que em 2016 as pessoas se lembrem que o seu direito termina quando começa o do outro.
Que as pessoas lembrem que cada um tem direito a opinião. Mas também tem o direito de respeitar e de ser respeitado.

Desejo que em 2016 as pessoas tenham mais consciência.
Desejo que em 2016 haja menos hipocrisia.
Desejo que mais pessoas vejam esse vídeo e reflitam sobre ele.

O que vale mesmo são os afetos.

Feliz 2016.

 

Sem comunicação

Leitores queridos que estão a espera de de uma resposta: Não esqueci de vocês, mas o Windows 10 esta fazendo um complô.
Meu computador nao inicializa e eu definitivamente não consigo escrever como gostaria pelo celular/telemovel.
Peço desculpas sinceras pelo tempo que estão a espera de um sinal de vida meu. Mas pode ser que demore mais uns dias.
Entretanto, se alguém tiver feito upgrade pro Windows 10, tenham em atenção ao arquivo mfewfpk.sys e, até onde li em fóruns, esta relacionado com o Windows Defender.
Ele é o motivo da minha dor de cabeça.

The britishness

Na primeira vez que estivemos em Londres, em 2011, assistimos na TV um programa tipo o do Conan O’Brian, só que britânico. Não tenho certeza qual, mas pelo que andei pesquisando na internet era o BBC Breakfast.
O entrevistado no dia era o ator Paul Bettany, e ele provavelmente estava promovendo um filme recém lançado, e então lhe perguntam se está gostando de viver em NY. Ele responde que gosta da cidade, NY é fantástica e é impossível não gostar de lá estar, mas… ele sente falta de estar na Inglaterra. E ele diz: “I miss the pubs. I miss the britishness“.

E eu, naquele momento, mesmo estando em Londres há apenas 3 dias, entendi perfeitamente o que ele quis dizer. Tenho a certeza que se eu não estivesse ali, experimentando a “britaneidade“, acharia que era papo de quem tá sofrendo alguma espécie de banzo.

Veja bem, eu sempre gostei de Lisboa, mas não tenho como mentir: é difícil se envolver rapidamente com as pessoas. Com a cidade, ok, foi um instante! Mas com os lisboetas foi mais difícil e meus posts passados relatam essa particularidade.

Bastou pouco tempo em Londres da primeira vez para sentir que as pessoas são o segredo da cidade ser o que é. E agora em Manchester eu tenho sentido cada vez mais o britishness, e passo a exemplificar.

Fomos ao Heaton Park há duas semanas, caminhar e dar comida aos esquilos. A meio da caminhada uma moça com três cães passava mais ali ao longe e um deles vem em nossa direção. Eu, que não preciso explicar como sofro por não ter mais os meus, me derreti toda e perguntei se a dona permitia que eu fizesse carinho nele. Ela disse: “porque não haveria de deixar?”, e começamos a conversar.

Foi mais ou menos meia hora de papo, caminhando lado a lado com uma completa desconhecida, ultra simpática. Falamos de filhos, de cães, de vida no estrangeiro (ela já morou nos EUA), e na hora que iríamos seguir para o lugar que fica a Scurry (colônia de esquilos), ela perguntou meu nome e disse-me o dela e perguntou se costumávamos ir ao parque. Eu disse que sim e ela completou: “se nos vir por aqui, levante a mãe e nos dê um olá”.

Isso é britishness.

Certa vez, no Tesco e,como toda boa dona de casa, dei uma geral nos preços dos itens que pesam mais no orçamento, pra ver se tinha alguma promoção que compensasse levar naquele momento. E vejo isso:WP_20150910_003

Fairy é uma marca de produtos de louça e os tabletes para máquina de lavar estavam em promoção. Mas se você observar bem, dentro da caixa tem um papel branco de desconto, que foi deixado por alguém que não ia usá-lo. Quem não precisa não pega, porque algo que não vi aqui ainda é espírito de porco. Mas certamente alguém precisou e usou o respectivo desconto de £1,50 (que acumularia sobre o 50% de desconto da etiqueta da prateleira) porque antes de eu ir embora já não estava mais lá o cupom e também tinha uma unidade a menos de fairy.

Isso é britishness.

Como vamos semanalmente ao mercado, por mais que nos policiemos para falar inglês o tempo todo, às vezes sai  entre a gente um diálogo em português. E já fomos parados três vezes por pessoas no mercado, que identificaram a nossa língua e puxaram assunto. Um disse que tinha amigos portugueses e reconheceu a língua, outro tinha reconhecido a língua e comentou que já esteve no Rio e em Portugal, e uma terceira pessoa não identificou, mas ficou curiosa e interessadíssima na nossa cultura e como é que aprendemos a falar inglês. Essa então foi engraçadíssima, disse “nós ingleses somos muito preguiçosos, não acha? todos aprendem a nossa língua e ficamos aqui na nossa zona de conforto sem aprender a língua de ninguém”.

Além da simpatia existe uma diferença brutal entre ser estrangeiro em Portugal e ser estrangeiro na Inglaterra. Em Lisboa meu filho sempre foi tratado por “o brasileiro” (algumas pessoas o tratavam assim de forma carinhosa, eu sei) mesmo ele sendo português nato, enquanto aqui ele é apenas o menino de olhos castanhos que gosta de Beatles. As pessoas aqui na Inglaterra querem que você fique e torcem pra que tudo dê certo (“I hope you’ll enjoy the city and stay with us for a long time!”). Torcem para que daqui a uns tempos (10 anos) já tenhamos a cidadania britânica em mãos, ou seja, querem que façamos parte da nação.

Isso é britishness.

Pessoas cedem o lugar em transporte público, cedem lugar na fila do mercado se você tem poucos itens ou se tem uma criança pequena (não estou falando de caixa preferencial!), abrem a porta de um estabelecimento, te tratam por “love” quando perguntam algo (por exemplo, uma senhora chegou depois de mim no ponto de ônibus e me perguntou “has the X43 already arrived, love?”). Estranhos conversam conosco como se fôssemos conhecidos há tempos, mas não troca-se intimidades, apenas papo corriqueiro sem pretensão nenhuma.

Isso é britishness.

Quando entramos e saímos do ônibus é normal cumprimentar o motorista. Mas não é “hi” ou “good morning/afternoon) apenas. É algo do tipo “olá, como está o seu dia hoje?”. E na hora de sair nada mais agradável do que ouvir “cheers”.

Isso é britishness.

E o senso de humor dos britânicos é algo indescritível. Nothing better than britishnes to cheer you up. Se um dia tiver a oportunidade, feel the britishness. E se já teve a oportunidade, conta pra gente: did you feel the britishness?