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10 itens para pensar antes de fazer as malas

Enquanto estamos na incerteza do nosso futuro me ocupo fazendo planos, estudando viabilidades e possibilidades.
Pelas regras da União Europeia podemos viver em qualquer país que faça parte do acordo do Free Movement Right, mas isso não significa que é apontar o dedo no mapa e colocar o pé na estrada. Existe uma lista de coisas que tem que ser levada em consideração antes de fazer um movimento.

Por exemplo, como eu não tenho nacionalidade europeia, mas meu marido sim, ele tem que primeiro ter um emprego para que eu peça a autorização de residência. E para eu pedir a autorização de residência, tenho que preencher alguns pré-requisitos que variam de país para país.

E além desse pequeno importantíssimo detalhe, existe uma série de coisas que se deve pesquisar antes de decidir mudar de país. Como estamos neste ritmo de ter que estar preparado para onde o vento nos levar, já faço pesquisas de coisas específicas, e certamente não são iguais para todos os países do território da UE.

Não vou fazer a pesquisa pra todos e colocar mastigadinho aqui, porque é impossível fazer isso sem estar no lugar e confirmar se é isso mesmo (nada me irrita mais que informação incorreta). Mas vou deixar aqui um check list pra que você faça a pesquisa no país que te interessar, caso esteja nos seus planos uma mudança.

  1. Moradia: pesquise primeiro por “melhores regiões para se morar em (…)” e a partir daí pesquisa “renting in (…)” e veja o tipo de habitação disponível. Apartamentos, casas flats, mobiliado, não mobiliado, distância do centro/local de trabalho, acesso a transportes.
  2. Condições para alugar: é preciso fiador? Aceita-se carta de recomendação do senhorio anterior? Carta do trabalho confirmando que tem emprego? Contrato de trabalho? Comprovativo do Imposto de Renda?
  3. Custos associados a moradia: no Rio de Janeiro temos o fatídico condomínio, que é um valor alto no custo de moradia. E também paga-se o IPTU fracionado. Em Portugal não há condomínio para quem aluga (geralmente é super baratinho e já está embutido no aluguel) e o IMI é por conta do proprietário. Na Inglaterra paga-se o city council, que é um imposto para quem está habitando o imóvel. Nele está incluído a taxa de coleta do lixo, limpeza da rua, iluminação pública. Além disso paga-se também a taxa de TV, que é um valor anual para quem tem TV em casa.
    Resumindo: pesquisar se tem custo de condomínio, imposto de moradia, taxa de moradia, taxa de coleta de lixo, taxa de TV.
  4. Transporte: carro ou transporte público? Dependendo da cidade que pretende morar, ou da distância da sua futura casa para a cidade/local de trabalho, tens que saber de antemão a melhor forma de locomoção e os custos associados a isso. Em Lisboa eu usava muito transporte público, mas também tínhamos carro. O seguro em Portugal é barato em comparação a média da UE (mas alto em comparação com o salário mínimo português), o valor do carro não é uma pechicha, mas é mais barato que no Brasil, mais caro que no UK. O seguro no UK é absurdo nos primeiros anos, mas não baixa das £500 mesmo depois de anos de bom histórico. Os transportes públicos em Lisboa nos levavam a todos os lados (além de serem excelentes – e há quem reclame!), em Londres eu nem senti falta de carro quando estive a passeio e morando em Manchester só senti falta do carro uma ou duas vezes. Faça uma pesquisa no google maps sobre a distância de lugares de interesse (escola, mercado, cinema, trabalho, hospitais, etc) e tente identificar a melhor opção pra transporte e o que cabe dentro do orçamento.
  5. Saúde: pública ou privada? O que o país oferece? No UK toda a saúde é pública, basta residir legalmente para se inscrever num centro de saúde, e a dedicação às crianças menores de 5 anos é algo fora do comum; Em Portugal existem as duas vertentes e os seguros de saúde não são tão caros, depende do que cabe no seu bolso e do que vc considera plausível. Na Irlanda toda a saúde é privada, mas vc tem que pagar um seguro de saúde obrigatório pra usar o seguro de saúde.
  6. Acesso a medicamentos: No UK até pra comprar anticoncepcional é necessário apresentar prescrição médica (emitida pelo NHS). Meu marido tem que tomar Levotiroxina Sódica todos os dias, pro resto da vida (por causa do câncer da tiróide) e aqui não vendem sem prescrição, mesmo sendo um medicamento inofensivo. Outros remédios como paracetamol, ibuprofeno vende-se até no supermercado, nas prateleiras. Em Portugal é mais fácil pra algumas coisas (anticoncepcional eu sempre comprei sem prescrição), mas alguns é mais restrito. No Brasil só tarja preta e alguns tarja vermelha precisa de receita. Então, se você usa anticoncepcional, é melhor se informar antes e, se for o caso, levar uma reserva com você, porque nem sempre medicamentos passam pelo controle postal. Por via das dúvidas, prepare um kit de primeiros socorros.
  7. Educação infantil: tem crianças? Qual a idade? Procure saber qual é a idade do ensino obrigatório. Em Portugal é aos 6 anos, no UK é aos 4 anos (inclusive tem fiscalização em cima). Se informe sobre quando tem que fazer a inscrição nas escolas, se tem custos, qual o critério pra inscrição em determinada instituição, a data limite para inscrição, etc. Lembre-se que no hemisfério norte o ano letivo começa em Setembro e termina em Julho do ano seguinte.
  8. Telecomunicações: preço dos serviços móveis, qual a melhor operadora, se é CDMA ou GSM (na Europa quase não tem mais CDMA, mas nos EUA ainda existe com uma certa força), o melhor tarifário, o custo dos serviços fixos (TV+Fone+Net), período de fidelização e respectiva multa rescisória, etc.
  9. Frete da mudança: se a casa não tiver mobília, compensa trazer a sua? Alguns países da Europa tem uma rede de mobiliário e decoração chamada IKEA. Relacione o que você levaria na mudança, veja o preço do mesmo no IKEA e faça as contas. Vale mais a pena vender o que se tem e comprar de novo? O frete + valor já investido em itens de casa (e as miudezas, porque no final o valor de itens de cama mesa e banho e utensílios de cozinha fica sempre maior do que imaginamos) compensa?
  10. Despesas de mercado. Vá ao google, pesquise os principais supermercados da cidade que vc vai mudar, entra no site deles e simule uma compra de semana. Alguns não tem loja online, mas tem o folheto de promoções. Faça uma lista e vá anotando. Eu uso o excel, coloco uma coluna com a moeda local, procuro a cotação no google , faço conversão e comparo com o meu custo atual. É um exercício não muito preciso (porque sempre tem as promoções, produtos que passamos a conhecer e as adaptações alimentares que são inevitáveis), mas dá pra se ter uma noção do impacto que a alimentação terá no orçamento.

Planejar com calma. Esse é o segredo para que sua mudança seja um sucesso. Levei dois anos pra colocar em prática a mudança do Rio para Lisboa. Era tanta gente preocupada com o que estávamos fazendo que até quando fui conversar com meu gerente na época, sobre a minha demissão, ele ficou preocupado em eu estar metendo os pés pelas mãos e me fez uma série de perguntas. Mas para alívio dele, eu tinha todas as respostas na ponta da língua. Faltava a bola de cristal pra saber o que nos esperava, mas preparada pra enfrentar o que viesse, com certeza eu estava.

 

The britishness

Na primeira vez que estivemos em Londres, em 2011, assistimos na TV um programa tipo o do Conan O’Brian, só que britânico. Não tenho certeza qual, mas pelo que andei pesquisando na internet era o BBC Breakfast.
O entrevistado no dia era o ator Paul Bettany, e ele provavelmente estava promovendo um filme recém lançado, e então lhe perguntam se está gostando de viver em NY. Ele responde que gosta da cidade, NY é fantástica e é impossível não gostar de lá estar, mas… ele sente falta de estar na Inglaterra. E ele diz: “I miss the pubs. I miss the britishness“.

E eu, naquele momento, mesmo estando em Londres há apenas 3 dias, entendi perfeitamente o que ele quis dizer. Tenho a certeza que se eu não estivesse ali, experimentando a “britaneidade“, acharia que era papo de quem tá sofrendo alguma espécie de banzo.

Veja bem, eu sempre gostei de Lisboa, mas não tenho como mentir: é difícil se envolver rapidamente com as pessoas. Com a cidade, ok, foi um instante! Mas com os lisboetas foi mais difícil e meus posts passados relatam essa particularidade.

Bastou pouco tempo em Londres da primeira vez para sentir que as pessoas são o segredo da cidade ser o que é. E agora em Manchester eu tenho sentido cada vez mais o britishness, e passo a exemplificar.

Fomos ao Heaton Park há duas semanas, caminhar e dar comida aos esquilos. A meio da caminhada uma moça com três cães passava mais ali ao longe e um deles vem em nossa direção. Eu, que não preciso explicar como sofro por não ter mais os meus, me derreti toda e perguntei se a dona permitia que eu fizesse carinho nele. Ela disse: “porque não haveria de deixar?”, e começamos a conversar.

Foi mais ou menos meia hora de papo, caminhando lado a lado com uma completa desconhecida, ultra simpática. Falamos de filhos, de cães, de vida no estrangeiro (ela já morou nos EUA), e na hora que iríamos seguir para o lugar que fica a Scurry (colônia de esquilos), ela perguntou meu nome e disse-me o dela e perguntou se costumávamos ir ao parque. Eu disse que sim e ela completou: “se nos vir por aqui, levante a mãe e nos dê um olá”.

Isso é britishness.

Certa vez, no Tesco e,como toda boa dona de casa, dei uma geral nos preços dos itens que pesam mais no orçamento, pra ver se tinha alguma promoção que compensasse levar naquele momento. E vejo isso:WP_20150910_003

Fairy é uma marca de produtos de louça e os tabletes para máquina de lavar estavam em promoção. Mas se você observar bem, dentro da caixa tem um papel branco de desconto, que foi deixado por alguém que não ia usá-lo. Quem não precisa não pega, porque algo que não vi aqui ainda é espírito de porco. Mas certamente alguém precisou e usou o respectivo desconto de £1,50 (que acumularia sobre o 50% de desconto da etiqueta da prateleira) porque antes de eu ir embora já não estava mais lá o cupom e também tinha uma unidade a menos de fairy.

Isso é britishness.

Como vamos semanalmente ao mercado, por mais que nos policiemos para falar inglês o tempo todo, às vezes sai  entre a gente um diálogo em português. E já fomos parados três vezes por pessoas no mercado, que identificaram a nossa língua e puxaram assunto. Um disse que tinha amigos portugueses e reconheceu a língua, outro tinha reconhecido a língua e comentou que já esteve no Rio e em Portugal, e uma terceira pessoa não identificou, mas ficou curiosa e interessadíssima na nossa cultura e como é que aprendemos a falar inglês. Essa então foi engraçadíssima, disse “nós ingleses somos muito preguiçosos, não acha? todos aprendem a nossa língua e ficamos aqui na nossa zona de conforto sem aprender a língua de ninguém”.

Além da simpatia existe uma diferença brutal entre ser estrangeiro em Portugal e ser estrangeiro na Inglaterra. Em Lisboa meu filho sempre foi tratado por “o brasileiro” (algumas pessoas o tratavam assim de forma carinhosa, eu sei) mesmo ele sendo português nato, enquanto aqui ele é apenas o menino de olhos castanhos que gosta de Beatles. As pessoas aqui na Inglaterra querem que você fique e torcem pra que tudo dê certo (“I hope you’ll enjoy the city and stay with us for a long time!”). Torcem para que daqui a uns tempos (10 anos) já tenhamos a cidadania britânica em mãos, ou seja, querem que façamos parte da nação.

Isso é britishness.

Pessoas cedem o lugar em transporte público, cedem lugar na fila do mercado se você tem poucos itens ou se tem uma criança pequena (não estou falando de caixa preferencial!), abrem a porta de um estabelecimento, te tratam por “love” quando perguntam algo (por exemplo, uma senhora chegou depois de mim no ponto de ônibus e me perguntou “has the X43 already arrived, love?”). Estranhos conversam conosco como se fôssemos conhecidos há tempos, mas não troca-se intimidades, apenas papo corriqueiro sem pretensão nenhuma.

Isso é britishness.

Quando entramos e saímos do ônibus é normal cumprimentar o motorista. Mas não é “hi” ou “good morning/afternoon) apenas. É algo do tipo “olá, como está o seu dia hoje?”. E na hora de sair nada mais agradável do que ouvir “cheers”.

Isso é britishness.

E o senso de humor dos britânicos é algo indescritível. Nothing better than britishnes to cheer you up. Se um dia tiver a oportunidade, feel the britishness. E se já teve a oportunidade, conta pra gente: did you feel the britishness?

Primeira missa… em Inglês

Apesar de ser católica e me considerar muito devota da minha fé, tenho que confessar que desde que saí do Brasil fui pouquíssimas vezes à missa. Não sei dizer o motivo, mas das poucas vezes que fui à Igreja em Portugal, me sentia desconfortável, como se eu fosse um bicho esquisito entrando ali. Moça jovem, igreja cheia de velhinhos, ninguém nunca tinha me visto e me olhavam com uma cara…

Eu, na casa de Deus, e sendo apontada? E as velhinhas beatas se sentindo donas da paróquia, puxando saco do santo Padre…

Mesmo morando em Lisboa acho que fui mais vezes à missa em Fátima. É um lugar de paz, cheio de energia boa. Recomendo pra qualquer pessoa de qualquer fé, mesmo que não a católica. Os jardins atrás do templo são mesmo uma paz.

Chegando em Manchester, descobrimos que nosso filho tem prioridade em algumas escolas católicas por ter sido batizado. E são geralmente as melhores escolas públicas. Então eu não me sinto confortável em colocar meu filho numa escola católica que fica a 6 minutos a pé da minha casa e não frequentar a igreja, que fica do lado da escola.

Então hoje fui eu, para a minha primeira missa em inglês. ourladyofdolours
Por estar super enferrujada na Liturgia, e não fazer ideia de onde estamos no calendário litúrgico, eu me perdi na missa. Não sabia mais muita coisa. Tentei forçar a minha cabeça pra associar os ritos, a consagração do Corpo de Cristo, etc. Consegui um pouco, e acompanhei a missa com as “falas” em português. Bem, Deus não se importa, afinal, é Deus, né?

Vou pesquisar a liturgia em inglês e em português, fazer uma “colinha” e levar pra próxima missa, assim eu interajo mais.

Mas isso é o de menos. Meu coração estava lá, e eu me senti tão bem, mas tão bem, que fiquei triste quando a missa acabou.

O Padre com semblante tão de paz, as poucas 15 pessoas que estavam lá assistindo a missa também tinham um ar de paz.

Não comunguei porque não estou apta. Anos sem ir a missa e ainda no direito de receber o Corpo de Cristo? Minha consciência não permite. Na verdade lembrei da minha avó me olhando na missa como quem perguntava “está devidamente preparada?”. Por isso, preciso me confessar primeiro.

Pra muitos não faz sentido isso, mas foi a educação que eu recebi.

A comunhão aqui não é somente o Corpo de Cristo, mas também o “sangue”. E eu fiquei boba ao ver que TODOS na igreja bebiam da mesma taça. Tinha lá um paninho pra limpar a parte em que a pessoa anterior encostou, mas jura? Todo mundo ali metendo a boca no mesmo cálice? Será que é obrigado a receber o sangue? Fiquei curiosa mas ao mesmo tempo achei meio anti-higiênico…

Pra além de ter me sentido em paz e confusa com a partilha do vinho, achei bem interessante as leituras e a homilia.

A primeira leitura foi do livro de Rute, de quando ela saiu de Judá com o marido e filhos, e quando depois de viúva e de ter perdido seus filhos, foi morar com a nora em Belém.
A segunda leitura foi de um salmo que diz: ” o Senhor ama aquele que é justo. É o Senhor quem protege o estrangeiro.”

E o Evangelho falou sobre quando peguntaram a Jesus qual o maior mandamento.

Na Homilia o Padre falou genericamente sobre isso e ressaltou os dois grandes mandamentos, dizendo pra esquecer o antigo testamento. Agora temos que concentrar no que o novo testamento diz.

E nas preces da comunidade, ele não leu nada em lugar nenhum. Pediu que as pessoas dissessem em voz alta suas preces ou caso quisessem, que fizessem suas preces silenciosas. Fiz umas 15, pode?
Quando as duas senhoras falaram as preces, o Padre complementou com outra. Pediu que todos lembrassem do mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Usou a palavra “vizinho” no lugar de próximo, e ressaltou quem são os vizinhos: as pessoas que passam por nós na rua, os enfermos, as pessoas que estão a procura de emprego, os imigrantes que tentam uma vida melhor, as pessoas que não tem onde morar.

Na situação de recém imigrante na Inglaterra, onde um mundo de dúvidas e incertezas bate à nossa porta, ouvir estas palavras num ambiente de paz… fez toda a diferença no meu coração.
E que seja feita a vontade de Deus. E que o Senhor proteja os estrangeiros.

Por que Manchester?

Quando decidimos sair de Lisboa e começar tudo de novo nas terras da Rainha as pessoas nos perguntavam o porque de não irmos para Londres.

Essa é fácil de responder! Já viram o preço de um aluguel na capital? Nem nos arredores a coisa melhora. Por exemplo:

Zoopla, 16/05/2015 To rent, in Luton
Zoopla, 16/05/2015
To rent, in Luton
Zoopla, 16/08/2015 To rent, in London
Zoopla, 16/08/2015
To rent, in London

Lembrando que Kensington é no centro de Londres, mas não tão perto de Westminster ou Waterloo. É uma zona excelente, portanto, está até barato este imóvel. Luton é onde fica um dos aeroportos londrinos, mas fica a uma hora de distância, de carro.

Bem, depois de respondido o motivo de não irmos para Londres (que foi bem aceite e até pensaram “eles não estão tão malucos assim”), vinha a pergunta: Por que Manchester?

Veja bem, eu AMO Londres e é a cidade mais perfeita do mundo, na minha opinião. Mas isso não quer dizer que seja a melhor cidade para viver.

É a segunda maior cidade (apesar de haver controvérsias entre os britons sobre isso) e está em pleno desenvolvimento. Mas em vez de ser eu a dizer o porquê, vou traduzir um texto publicado em 14/08/2015, na seção Travel do Telegraph, em que um Mancunian (gentílico de Manchester) explica porque Manchester é melhor que Londres.

O ponto de vista do autor aborda a cidade em todos os aspectos: moradia e turismo.
Então, se você tem alguma curiosidade sobre a vida Manc, vale a pena a leitura.

Confira o texto original aqui.

Porque Manchester é melhor que Londres
por Alain Tolhurst

Pegando o ônibus 42 pela Curry Mile que se vira a Oxford Road, a cúpula da recém reformada (ao custo de 170 milhõe de libras) Biblioteca Central iminente a diante, me faz lembrar porque Manchester sempre vai ser minha casa – embora eu tenha deixado o Norte há 3 anos e fui viver em Londres.

São as pessoas. Nas ruas a seguir, é o inimitável orgulho emproado que separa os Mancunians. Sabemos que Manchester é excelente, mas não tentamos transformá-la nisso, apenas aconteceu. Existe uma confiança despreocupada nas pessoas da cidade, um contraste evidente do eforço descomunal e envaidecido de Londres em constantemente ser superlativa.

Não somos condescendentes como a capital – não temos pena e auxiliamos aqueles que vêm dos condados por desaguarem nas nossas margens como os londrinos fazem, nós abraçamos os nossos condados.

E é essa mistura de simpatia e conforto irrevogável em nós mesmos que nos torna tão pé no chão e capaz de conversar com qualquer pessoa que encontremos, fazer uma piada e zombar a nossa própria língua – e exatamente isso que faz este lugar tão divertido.

Acrescento a isso o aluguel do meu apartamento de um quarto a norte de Londres que paga uma casa de 3 quartos aqui em cima – com a imensurável beleza do Lake District a apenas uma hora dali. Mas existe muito mais apelo em Manchester do que seus residentes e residências – e começa com a fundação da primeira cidade moderna do mundo, que Benjamin Disraeli definiu como “um grande feito da humanidade como Atenas”.

Porque Manchester não foi apenas o berço da Revolução Industrial. Desde que construímos o Ship Canal perto de 1890, ignorando as necessidades dos nossos velhos amigos de Merseyside e seus altos impostos sobre em negócios, a cidade sempre esteve às voltas do comércio, e o espírito empreendedor ainda é visível hoje.

Berço da primeira estação de trem para passageiros, a primeira biblioteca pública, primeira reunião do congresso da Trade Union, e berço do vegetarianismo moderno e o movimento cooperativista. 

É também onde começou o direito do voto feminino, onde Rutherford dividiu o átomo, onde Turing construiu o primeiro computador, onde as ligas de futebol foram fundadas, onde Rolls encontrou Royce, Marx encontrou Engels.

E mais recentemente: os irmãos Gallagher, a Haçienda, o pé esquerdo de Ryan Giggs, e eu poderia continuar a elencar o dia inteiro. Mas a verdade é que Manchester não é só história – tem grandes planos para o futuro, maiores que os de Londres.

Quando a indústria da região entrou em colapso, Manchester começou a se reinventar tornando-se uma cidade próspera em cultura e esporte – nem mesmo a bomba que o IRA arrebentou seu coração em 1996 o seu progresso foi interrompido. E continua até os dias de hoje com ou sem a promessa do George Osbourne de ajudar a criar uma “potência do norte”.

Pegue como exemplo o Free Trade Hall – construído no lugar do massacre de Peterloo de 1819, em comemoração da Corn Laws que foi revogada, foi bombardeada durante a Manchester Blitz. Reconstruída como uma central de eventos musicais, foi lá que um Manc chamou Bob Dylan de “judas” em 1966, e uma década depois foi palco do show do Sex Pistols que mudou o mundo, inspirando os homens que viriam a fundar o The Smiths, Joy Division e o The Fall. É hoje um hotel considerado como Grau II.

No geral, não se pode dizer que Manchester é uma cidade bonita, mas tem um estiilo e um entusiasmo mantido ao longo da sua transformação, com suas fábricas Vitorianas, bares ao lado do canal na Gay Village e o monumento de vidro como a Beetham Tower, existindo confortavelmente lado a lado.

Uma vez que o calcanhar de Aquiles da cidade – a escasses de restaurantes finos – não é mais um problema, já que recebeu top chefs como Simon Rogan, que está abrindo seu premiado restaurante (Rogan’s The French fecha este mês para reforma e expansão).

E culturalmente, a bienal Manchester Arts Festival corresponde a qualquer coisa no Reino Unido, e em seguida há inúmeras galerias, grandes e pequenas, museus da guerra, ciência, futebol, luta de classes, transportes e o LS Lowry, que abriga teatros e espetáculos musicais como o Bridgewater Hall e o projeto Out House, que é um projeto de arte de rua em constante evolução no lado norte da cidade.

Não há armadilhas para turistas aqui ou edifícios em ruínas preservados em formol – é uma cidade que está viva, evoluindo organicamente. 

Eu sei porque já vi eu mesmo caminhar pela extensão de Manchester várias vezes. Uma cidade que tem de tudo (exceto praia como Ian Brown notoriamente já observou), mas ainda assim pode ser facilmente percorrida a pé e cheio de felicidade. 

E não se preocupe em ficar encharcado se vier experimentar por você mesmo, porque quase nunca chove.

§

Finalmente Caroline

Desde que conhecemos a capital da terra da rainha, em 2011, ficamos apaixonados e de alguma forma nos identificamos com a cidade e com as pessoas. Quando voltamos da primeira viagem descobri que estava grávida e quando soube que teríamos um menino pensamos muito num nome que se encaixasse nas três culturas: brasileira, portuguesa e britânica, afinal, ficamos com aquela pontinha de desejo de um dia morar no Reino Unido. Mas independente disso, não queríamos que nosso filho tivesse dificuldade de falar o nome ou ser entendido quando tivesse que se apresentar.

Pensamos muito e, além das regras que eu tinha estabelecido pra mim mesma (proibido nome de Continue a ler Finalmente Caroline

Entrar no Reino Unido: o que se espera do agente da imigração?

Planejar uma mudança de casa é complicado. De cidade é mais. De país então… Pra ter uma ideia, tive que:

  • tratar de alugar uma casa pra morar em Manchester, que fosse perto de boas escolas (esse tema merece um post específico)
  • encerrar tudo em Lisboa (contas de banco, financiamento do carro, serviços de casa)
  • desfazer de móveis, itens pessoas, roupas, separar a mala e ter a sorte de ter uma amiga fantástica (e às vezes me pergunto se ela não seria um anjo da guarda) que se colocou à disposição pra apagar as luzes e entregar as chaves do meu apartamento (isso é um eufemismo perto do que ela fez, é claro)
  • resolver a  parte burocrática, afinal, eu não tenho cidadania europeia.

A maior preocupação do meu marido era de eu ser “barrada” na imigração por não ter o direito de viver aqui, ou simplesmente complicarem a nossa vida.

Então pesquisamos muito. Na internet a informação nunca é a receita de bolo que se aplica a sua situação em específico. E eu sei que vou receber vários e-mails de pessoas querendo saber se na situação delas como se resolve, ou se têm direito a entrar, etc.

Antes de continuar a escrever, vou só colocar em letras grandes aqui, pra chamar a atenção de quem normalmente lê o primeiro parágrafo e já entra em contato pedindo minha ajuda: NÃO TENHO CONHECIMENTO DA LEGISLAÇÃO TODA, SEI APENAS O QUE SE APLICA A MIM E AS CHANCES DE VOCÊ ESTAR NA MESMA SITUAÇÃO QUE EU É MUITO REDUZIDA.

Ok, dito isso, vamos continuar 🙂 Continue a ler Entrar no Reino Unido: o que se espera do agente da imigração?

Starting all over again

Em 2008, chegamos a Lisboa apenas nós dois. Ninguém a nossa espera, ninguém a quem procurar.
Em 2009 passamos a ser três, em 2012 passamos a ser quatro, em 2014 éramos 5, em 2015 passamos a ser 4 novamente, depois 5 e por não ter tido opção, somos só nós 4 mais uma vez.

Hoje conto 15 dias na terra da rainha, poucas horas de sono, muitas libras gastas no Ikea, Argos e Amazon, tenho minha casa 60% do jeito que eu quero, e já posso sentar à bancada da minha cozinha, tomar uma cerveja, ouvir uma música (enquanto o marido está vendo TV com os ouvidos atentos às crianças que já dormem, caso preciso) e escrever.

Moro num Continue a ler Starting all over again