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Uma carta para minha filha

Eu não tive vontade de escrever uma carta para o seu irmão. Mas essa noite, depois que te dei a mamadeira da meia noite, e que pela primeira vez desde que tinha dois meses você encaixou a cabeça no meu pescoço pra dormir, eu me senti tão completa e tão feliz e essa vontade inexplicável de escrever pra você despoletou em mim.

Eu vou te apoiar, minha filha. Eu vou te apoiar em tudo o que você quiser fazer.

Vou te orientar, mas principalmente, prometo estar atenta a você e a te dar o empurrãozinho que você precisa pra realizar os seus sonhos. Os seus pés me dizem que você vai ser bailarina, mas os seus gritos me dizem que você vai ser soprano, e quando você aperta a minha mão… algo me diz que você vai ser judoca.

Independente de qual (ou quais) destino(s) que você escolher, eu vou te apoiar. Ser mulher, hoje, em 2015, é mais fácil do que era em 1985 e ainda assim é difícil. Tudo o que você fizer hoje a sociedade vai querer dar a sua opinião. A sua orelha ainda não é furada e algumas pessoas acham que por isso você é um menino (e também porque eu não te visto com cor-de-rosa e lilás dos pés à cabeça) mas eu não ligo. Porque não é uma cor que te define, não é um acessório que te define. E é isso que eu quero que você saiba: ninguém ou nada te define, a não ser você mesma.

Pode ser que no futuro você seja apaixonada por cor de rosa e por Barbies, ou por azul e trucks, mas saiba que eu nunca te influenciei a isso e tudo será estritamente escolha sua. Eu sempre coloquei e colocarei a sua disposição todas as cores do arco-íris e deixarei você escolher a que mais gosta.

Não irei furar as suas orelhas até ser você a decidir que quer isso. Não vou te submeter a nenhuma dor desnecessária por ser uma exigência da sociedade. A vida já nos faz sofrer tanto, pra que incluir mais uma dor sem ter que pedir por ela, sem saber que estás preparada pra isso?

Não vou te encher de bonecas ou fazer lavagem cerebral em você para gostar dos ursinhos carinhosos, ou dos Little Ponies. Nem da Sofia the First, ou da Doc McStuffins. Ou da Barbie!

Vou te dar o sistema solar, a flora e a fauna, as formas, as cores. Vou te dar todos os sons (apesar de eu adorar a música de Frozen não vou limitar a isso o seu aprendizado musical), todos os instrumentos.

Vou te dizer, de forma imparcial, o que é socialismo, comunismo e democracia, e você vai decidir em que acreditar. Mas, principalmente, vou te ensinar a lutar pelo que você acredita.

Vou te mostrar o que é o amor incondicional, vou te contar como conheci o teu pai e te dizer como é bom ser amada e poder retribuir esse amor sem medo.

Irei, se Deus quiser, te mostrar os lugares que mais amo no mundo, os paladares mais agradáveis e permitirei que você viva suas próprias experiências e defina os lugares que você mais ama, que crie as suas memórias.

Te darei a praia, a serra, a neve, o campo. E você vai descobrir qual você gosta mais.

Brigarei contigo quando estiver chorando por alguém que não merece as suas lágrimas, se estas estiverem correndo pelo seu rosto por mais de 24h. E farei isso pra te mostrar que você é mais forte que tudo e que todos e estarei do seu lado sempre que precisar. Porque somos mulheres de fibra e esse mundo precisa de mais pessoas como eu e como você.

Acima de tudo, vou sempre te amar. Você existe dentro de mim há 20 meses, mas há apenas 10 meses que eu ouço a sua respiração e vejo o seu olhar. E o seu olhar… é o mais lindo e mais terno que já existiu.

Esse pedacinho de gente, projeto de mulher, vai ser um feito e tanto no futuro. E eu vou estar com você. Sempre. Longe ou perto, vou estar com você.

Siga o seu coração. Siga a sua intuição. Vou estar sempre segurando a sua mão e você nunca vai esquecer de quanto a sua mãe te ama.

Seja feliz. Porque é assim que você me faz.

Enfim, minha carta!

Quando saí do Brasil eu tinha um planejamento cronológico em mente. Chegávamos em Novembro, meu marido começaria a trabalhar em Dezembro, daí daria entrada no meu pedido de residência (era necessário o contrato de trabalho do meu marido, pra comprovar que ele tem condições $$$ de me sustentar) e ficaria pronto em um mês, eu teria meu cartão de residência, começaria a trabalhar, no máximo, no começo de fevereiro e a vida continuaria feliz e contente. Continue a ler Enfim, minha carta!