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The britishness

Na primeira vez que estivemos em Londres, em 2011, assistimos na TV um programa tipo o do Conan O’Brian, só que britânico. Não tenho certeza qual, mas pelo que andei pesquisando na internet era o BBC Breakfast.
O entrevistado no dia era o ator Paul Bettany, e ele provavelmente estava promovendo um filme recém lançado, e então lhe perguntam se está gostando de viver em NY. Ele responde que gosta da cidade, NY é fantástica e é impossível não gostar de lá estar, mas… ele sente falta de estar na Inglaterra. E ele diz: “I miss the pubs. I miss the britishness“.

E eu, naquele momento, mesmo estando em Londres há apenas 3 dias, entendi perfeitamente o que ele quis dizer. Tenho a certeza que se eu não estivesse ali, experimentando a “britaneidade“, acharia que era papo de quem tá sofrendo alguma espécie de banzo.

Veja bem, eu sempre gostei de Lisboa, mas não tenho como mentir: é difícil se envolver rapidamente com as pessoas. Com a cidade, ok, foi um instante! Mas com os lisboetas foi mais difícil e meus posts passados relatam essa particularidade.

Bastou pouco tempo em Londres da primeira vez para sentir que as pessoas são o segredo da cidade ser o que é. E agora em Manchester eu tenho sentido cada vez mais o britishness, e passo a exemplificar.

Fomos ao Heaton Park há duas semanas, caminhar e dar comida aos esquilos. A meio da caminhada uma moça com três cães passava mais ali ao longe e um deles vem em nossa direção. Eu, que não preciso explicar como sofro por não ter mais os meus, me derreti toda e perguntei se a dona permitia que eu fizesse carinho nele. Ela disse: “porque não haveria de deixar?”, e começamos a conversar.

Foi mais ou menos meia hora de papo, caminhando lado a lado com uma completa desconhecida, ultra simpática. Falamos de filhos, de cães, de vida no estrangeiro (ela já morou nos EUA), e na hora que iríamos seguir para o lugar que fica a Scurry (colônia de esquilos), ela perguntou meu nome e disse-me o dela e perguntou se costumávamos ir ao parque. Eu disse que sim e ela completou: “se nos vir por aqui, levante a mãe e nos dê um olá”.

Isso é britishness.

Certa vez, no Tesco e,como toda boa dona de casa, dei uma geral nos preços dos itens que pesam mais no orçamento, pra ver se tinha alguma promoção que compensasse levar naquele momento. E vejo isso:WP_20150910_003

Fairy é uma marca de produtos de louça e os tabletes para máquina de lavar estavam em promoção. Mas se você observar bem, dentro da caixa tem um papel branco de desconto, que foi deixado por alguém que não ia usá-lo. Quem não precisa não pega, porque algo que não vi aqui ainda é espírito de porco. Mas certamente alguém precisou e usou o respectivo desconto de £1,50 (que acumularia sobre o 50% de desconto da etiqueta da prateleira) porque antes de eu ir embora já não estava mais lá o cupom e também tinha uma unidade a menos de fairy.

Isso é britishness.

Como vamos semanalmente ao mercado, por mais que nos policiemos para falar inglês o tempo todo, às vezes sai  entre a gente um diálogo em português. E já fomos parados três vezes por pessoas no mercado, que identificaram a nossa língua e puxaram assunto. Um disse que tinha amigos portugueses e reconheceu a língua, outro tinha reconhecido a língua e comentou que já esteve no Rio e em Portugal, e uma terceira pessoa não identificou, mas ficou curiosa e interessadíssima na nossa cultura e como é que aprendemos a falar inglês. Essa então foi engraçadíssima, disse “nós ingleses somos muito preguiçosos, não acha? todos aprendem a nossa língua e ficamos aqui na nossa zona de conforto sem aprender a língua de ninguém”.

Além da simpatia existe uma diferença brutal entre ser estrangeiro em Portugal e ser estrangeiro na Inglaterra. Em Lisboa meu filho sempre foi tratado por “o brasileiro” (algumas pessoas o tratavam assim de forma carinhosa, eu sei) mesmo ele sendo português nato, enquanto aqui ele é apenas o menino de olhos castanhos que gosta de Beatles. As pessoas aqui na Inglaterra querem que você fique e torcem pra que tudo dê certo (“I hope you’ll enjoy the city and stay with us for a long time!”). Torcem para que daqui a uns tempos (10 anos) já tenhamos a cidadania britânica em mãos, ou seja, querem que façamos parte da nação.

Isso é britishness.

Pessoas cedem o lugar em transporte público, cedem lugar na fila do mercado se você tem poucos itens ou se tem uma criança pequena (não estou falando de caixa preferencial!), abrem a porta de um estabelecimento, te tratam por “love” quando perguntam algo (por exemplo, uma senhora chegou depois de mim no ponto de ônibus e me perguntou “has the X43 already arrived, love?”). Estranhos conversam conosco como se fôssemos conhecidos há tempos, mas não troca-se intimidades, apenas papo corriqueiro sem pretensão nenhuma.

Isso é britishness.

Quando entramos e saímos do ônibus é normal cumprimentar o motorista. Mas não é “hi” ou “good morning/afternoon) apenas. É algo do tipo “olá, como está o seu dia hoje?”. E na hora de sair nada mais agradável do que ouvir “cheers”.

Isso é britishness.

E o senso de humor dos britânicos é algo indescritível. Nothing better than britishnes to cheer you up. Se um dia tiver a oportunidade, feel the britishness. E se já teve a oportunidade, conta pra gente: did you feel the britishness?

Como assim????

O dia de hoje estava meio cinzento, mas extremamente abafado. Não dava vontade de fazer nada, a não ser ficar no sofá, em frente ao ventilador, vendo televisão… Mas tínhamos que ir ao mercado.
Aproveitamos para colocar o carro pra lavar (para quem quiser saber, 20€ a lavagem completa), e fomos dar uma voltinha pra fazer hora. Passamos na FNAC, procurei o tal fone pro meu celular (jack 2.5mm com mic), mas pra variar, só tem 3.5mm. Desisti e fui dar um “rolezinho” pelas câmeras fotográficas. Um amigo no trabalho tem uma Canon profissional, toda xpto, e eu brinquei com ela ontem e fiquei apaixonada! Então fui sondar o preço.

Então estava eu ali olhando as câmeras e tinha um senhor (refiro-me respeitosamente, pois deveria ter uns 45 anos, não era tão senhor assim) que também estava ali vendo preços e tal. A filha dele veio atrás. Devia ter uns 13 anos de idade. Por um instante eu achei que não fosse filha, que fosse uma irmã muuuito mais nova, ou apenas uma menina maluca perdida por ali, sei lá, mas como ela o chamou de “pai”, a dúvida desfez-se.

Voltando à história. Então o tal senhor pegou numa câmera sei lá das quantas e disse “humm, esta é mesmo boa”. Eis que a garota fala assim: “que estupidez, não sei pra que quer uma coisas dessas”. O tom da menina foi tão indelicado que vocês não têm noção. O pai não disse nada. A menina ainda continuou: “não percebes nada disto, não perca seu tempo vendo parvoíces”. E o pai continuou calado. Aí a menina começou a olhar as outras câmeras e pegou numa e disse “ah, essa é igual da minha amiga, essa sim é boa! veja aqui se não é boa! é sim, é sim! ela tem uma dessas”.

Claro que eu não estou citando ao pé da letra o que ela disse, meu cérebro filtrou metade dos insultos que ela disse ao pai… E ele ainda assim não disse nada.

Pra terem uma ideia do “tom” da menina, lembram do filme “Love Actually” (“Simplesmente amor” no Brasil e “O amor acontece” em Portugal”)? No final do filme, quando o personagem do Colin Firth vai na comunidade portuguesa procurar a Aurélia (Lúcia Moniz), e o pai da Aurélia abre a porta, o Colin Firth diz que quer casar com a filha dele,  e ele chama a outra filha encalhada? Lembram como a mulher responde ao pai? É exatamente assim que essa menina da FNAC falou. Nesse tom.  Péssimo, não?

Saí de perto, porque a minha vontade era de dizer ao pai “se fosse eu assim falando com meu pai, já teria levado uns tapas na boca”, mas como estou mais tuga que outra coisa, evitei colocar pra fora o meu lado contestador. Fui ver então as novidades do PS3, ver preço do PS Move, e depois de uns 5 minutos vem a mesma menina pra perto de onde eu estava… mas agora com a mãe.

A mãe tava vendo não sei o que pra não sei quem, e a menina disse: “não compres isso! mais vale comprar dois desse aqui pra mim!”.

Eu nem olhei o que era, mas me irritou tanto… Eu saí de perto de novo, mas fiquei tão incomodada com esse tipo de comportamento!!! Nem me refiro somente ao da filha, mas ao dos pais que não colocam a miúda no lugar dela!! Como assim??? Minha filha me chama de estúpido, é fútil ao ponto de achar que o que a amiguinha tem é bom, e ainda por cima é egoísta??? E eu não faço nada??? Ui… ai, se fosse comigo…

Depois disso eu e meu marido tivemos uma longa conversa sobre filhos, criação e como lidaríamos com uma situação dessas. Acho que seremos bons pais. Não partiríamos pra violência, mas sim pra consciência da criança. Nossa esperança sincera é que nossos filhos não cheguem a esse ponto, e tenham respeito pelos pais e não seja fútil ao ponto de querer ter algo só porque alguém na escola também tem.

Meu objetivo com esse post é fazer um protesto aos pais: Quem ama diz não, quem ama educa. Provem que amam os filhos e lhes dê educação!!!

Seis por meia dúzia

Foi isso o que eu escutei de amigos antes de vir pra cá. Eu estaria trocando seis por meia dúzia.

Um dos principais motivos da minha saída do Brasil foi a violência.
Eu já estava ficando uma pessoa chata, com medo de sair de casa à noite, escondendo o celular e documentos dentro das calças, pavor de andar de carro e ônibus, ficava tensa se andando na rua notava uma sobra atrás de mim. Continue a ler Seis por meia dúzia