No meu trabalho atual eu vejo a escrita de inúmeras pessoas, e tento não fazer caras e bocas quando vejo um erro grotesco de português. Eu não sou perfeita, mas minhas notas em português e comunicação eram ótimas, sempre tive excelente avaliação em redação, e acho que levo até um certo jeito pra coisa, senão não teria um blog.
Mas eu tenho reparado num erro comum: verbo ou pronome?
As pessoas estão com dificuldade de distinguir se é uma ênclise ou se é um verbo no pretérito perfeito do indicativo.
Pra quem não sabe exatamente o que é uma ênclise, vou apresentar a família completa, usando como cobaia o verbo “dar”.
Próclise: pronome antes do verbo. Exemplo: Te darei.
Mesóclise: pronome no meio do verbo. Exemplo: Dar-te-ei
Ênclise: pronome no final do verbo. Exemplo: Darei-te
O Brasil tem uma linguagem mais fã das próclises e aqui em Portugal as pessoas fazem mais ênclises, só que nem sempre fazem direito… e confundem com o pretérito perfeito do indicativo. É que aqui usamos o tu como tratamento informal, como se faz em espanhol. Você é formal, tu é informal. E por utilizarem o verbo de acordo com o pronome, acontece essa confusão.
Não entenderam? Então é assim:
Alguém quer tecer algum comentário sobre o visual novo de um amigo. E quer perguntar se mudou o visual. Verbo “mudar” e a pergunta sai assim: “Mudas-te o visual?” quando deveria ser “Mudaste o visual?”.
E isso acontece mais do que eu esperava. É constante. As pessoas não sabem que o TE faz parte do verbo e não é um pronome!!
Ainda não acredita? Vamos ver se essa pequena amostra daquilo que eu vejo no trabalho faz você entender meu desespero:
(Nota: por razões de confidencialidade, o nome do remente e da empresa que eu trabalhava e a que eu representava foram excluídas).
E esse aqui é o melhor de todos:
Eu sei que pareço louca e obcecada com isso, mas sou apaixonada pela língua portuguesa, sempre fui, e aqui eu vejo muitas mesóclises e isso é apreciado por qualquer pessoa que gosta da língua mãe, e ouvir isso no cotidiano é raro pra um brasileiro que sempre achou esquisito nas provas ter que preencher lacunas com mesóclises ou ênclises, já que fazemos somente próclises. A decepção acontece quando deparamos com a escrita e descobrimos que é pura ilusão, as pessoas não sabem o que estão falando, não sabem se conjugam ou se alocam o pronome, e isso me fez ter vontade de escrever. E então alguém que me conhece vai ver esse post e me mandar uma mensagem perguntando: “Enloqueces-te?” e eu vou surtar de vez.
Entendem a diferença da mensagem?
Enloqueceste = você ficou maluca?
Enloqueces-te = é um imperativo, me ordenando a ficar maluca
Falaste, mudaste, reclamaste, comeste, disseste, apareceste, viveste, viajaste, foste, aprendeste… É a lista de verbos que eu já vi terem sido negligenciados em facebook, em emails, em sms, no trabalho.
Triste, não?