Tenho recebido algumas mensagens com dúvidas sobre este tema e resolvi compilar a informação num post. Antes, pra entender a nomenclatura e jargão usados nos anúncios, dá uma olhada nesse post aqui: Morar cá – Parte técnica.
Agora ao que interessa: fiador ou não fiador?
A resposta é: depende.
Primeiro que existe sim um preconceito contra o sotaque brasileiro. Quando ligávamos para os anúncios e ouviam o sotaque a primeira coisa que diziam é que não estava disponível. Para conseguirmos a nossa primeira (e única) visita, meu marido fez sotaque de português no início, perguntando se estava disponível. Quando a senhora que nos atendeu disse que estava, ele começou com o sotaque carioca e ela não teve como voltar atrás.
Quando fomos visitar o apartamento ela confessou que já tinha negado para outros brasileiros na mesma semana, mas nos explicou o motivo: a inquilina anterior dela era brasileira e roubou as almofadas, o microondas, danificou a pia da cozinha e deixou um aluguel em atraso. Então ela fez juízo de valor e achou que era uma questão cultural.
Infelizmente, este preconceito existe. E não é raro de encontrar.
Com a nossa primeira experiência em arrendar, a proprietária queria fiador. Explicamos que não tínhamos ninguém em Portugal, apenas no Brasil. Mas que entretanto, como sinal de boa fé, adiantaríamos 3 meses de aluguel.
E boa fé quando significa dinheiro no bolso é sempre muito bem visto, principalmente quando é tratado diretamente com o proprietário.
Aquela era a casa onde ela criou os filhos, então ela tinha mesmo muito carinho por aquele apartamento, bem como tinha também muitos vizinhos amigos que ficavam de olho na gente. E todos falaram maravilhas sobre nós, e que a deixou super despreocupada. Nunca atrasamos um dia o pagamento da renda, então além de despreocupada, ela ficou feliz.
A parte ruim desse acordo é que o contrato não estava registrado nas finanças, portanto, eu não podia declarar no IRS, pra aumentar a nossa restituição…
E depois de viver lá quase dois anos, encontramos um outro apartamento, que pertencia a uma empresa. Na verdade era o edifício inteiro que pertencia a tal empresa, que era a construtora do respectivo.
Eles denominaram uma imobiliária pra tratar das questões administrativas (terceirizaram tudo, desde o arrendamento até a manutenção) e também não tivemos que apresentar fiador, mas tivemos que apresentar nossos contratos de trabalho, nosso último IRS e os recibos de vencimento (contra-cheque) mais recentes.
Tivemos que desembolsar um mês na frente e um mês de caução. Quando mudamos para outro apartamento no mesmo prédio, foi também tranquilo. Tudo dentro de casa, então fizemos os acertos dos valores de caução e pronto. Mudamos para um apartamento maior.
Como estes dois ultimos contratos nesse prédio estavam registrados nas finanças (e eles emitiam fatura do aluguel pago) o total que nós conseguimos restituir no IRS era quase um mês de aluguel (isso pra nossa realidade de despesas x receitas x imposto retido).
O tempo de contrato padrão é de 5 anos, mas pode ser acordado entre as partes para um menor período.
Dica de ouro: Tenham em atenção a estrutura do apartamento. Se for mobiliado, confirme se a mobília é a que está nas fotos. Se for de piso frio (cerâmica, porcelanato, por exemplo) pergunte sobre o aquecimento e isolamento da casa. Os vidros duplos são ótimos pra isolar o frio. Pergunte se tem os estores funcionando (e quando for visitar, teste-os todos!!!). Apartamentos com cerâmica na parede são um gelo no inverno, e por vezes escondem umidade e infiltração nas paredes (ou seja, mofo). Ponha a mão na parede e sinta se tem umidade. Não pense que não faz diferença 50€ no aluguel algum destes detalhes. Aquilo que vc economiza no aluguel, você gasta na energia elétrica e na compra de equipamentos como aquecimento a óleo, desumidificador, purificador de ar…
Eu recomendo fortemente pesquisar apartamento no Casa Sapo, pra terem uma noção de localidade, preço, descrição.
E nunca faça negócio sem ter visitado o apartamento.
Existem muitos esquemas pra passar a perna, e por mais que algumas pessoas pareçam super bem-intencionadas jurando de pé junto que são pessoas sérias, e que não estão aqui pra brincar com ninguém, e que pode confiar… simplesmente não confie.
Se o apartamento estiver muito barato e for muito bonitinho, tem pegadinha nisso aí… Ou é ruim de transporte, ou tá cheio de problema técnico, ou a vizinhança é uma bomba (em cima de buteco, gente bêbada, bairro de comportamento anti-social, etc).
Portugal é lindo, Lisboa em especial é fantástica, quase não existem lugares violentos, mas tem lugares que são um primor pra ser palco pra barraco. Vizinho discutindo com outro pela varanda, mulher gritando com homem no meio da rua (e vice versa), pessoas que têm problemas de audição e colocam o som do carro nas alturas, embaixo da sua janela, tocando uma música indecifravelmente irritante, etc. É a isso que me refiro quando digo que a vizinhança é uma bomba.
Desconfie, investigue, pergunte. Peça mais fotos. Peça pra visitar. Pergunte sobre a redondeza e pesquise sobre ela no google.
Não conheço Portugal todo, conheço um bocado de Lisboa, então se tiver alguma dúvida sobre alguma área em específico, ou se quiser tirar alguma outra dúvida sobre este tema, fala que eu te escuto 🙂