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Eleições Municipais 2008

Passadas as eleições municipais, posso agora falar à vontade.
Cheguei a pensar que a candidatura para vereador era na verdade um concurso de horrores. O horário político chegava a ser cómico, mas no fundo, era trágico.
Pesquisei o nome de alguns candidatos, se é que pode-se chamar a isso de nome…

Em Teresina – PI
Trocim
Véia
Carne assada
Pirulito
Carlinhos Vassoura
Pé quente
Paulinho Cabeça Branca
Sassá
Tererê
Vovozinha
Quem Quem
Parrela

Este último tem um bordão bem peculiar: “se eu for eleito não faltará alimento nem arroz, nem carne na sua panela”.

Em Caxias, RJ, outras pérolas e suas pérolas:
Sandro Gordo – um vereador de peso
Marilda – de mulher para mulher (será que as lojas Marisa sabem disso?)
Keit Marrone – a loira da saude, mulher no poder, que tal votar pra ver?
Cleo – sou candidata pela primeira vez e é cléo neles
Zé luis da farmácia – de trás pra frente, de frenta pra tras 14641, luiz da farmacia fez e vai fazer muito mais

Outros apareciam fantasiados, como super heróis… Palavras não são suficientes para descrever, então entre no Youtube, pesquise por “vereador 2008” e… sofra.

Além desse horror show, algumas notícias me põe a questionar a índole dos políticos deste país:

Uma eleitora em Canoinhas (SC) tentou registrar em cartório a venda do seu voto e de mais 10 parentes (receberia combustível para o carro se votasse em determinado vereador).
Mais assustador é descobrir que este vereador, cujo nome está sendo preservado para investigações da Justiça, disse que para receber o dinheiro os eleitores deveriam procurar um órgão para ter uma autorização legal pra transação…

Voltando ao Piauí: o filho do vice-prefeito do município José Freitas foi espancado por 40 cabos eleitorais de um candidato rival.

No site da Folha de São Paulo havia uma relação de todos os candidatos, inclusive o respectivo perfil. Já tiraram a página do ar, mas tive o cuidado de consultar alguns antes das eleições e pasmei com a quantidade de gente que quer assumir um cargo público, para elaborar projetos de melhoria e que não possui nem mesmo o ensino fundamental concluído, ou seja, não têm o mínimo de escolaridade.

Descobri ainda que a Lei pede apenas que não seja analfabeto. No Brasil a classificação de analfabeto limita-se ao indivíduo que não sabe escrever o próprio nome. Se souber escrever o próprio nome, não é mais analfabeto. Sim, é um absurdo.

Como pode??
Alguns são funcionários públicos, e me pergunto se, quando eleitos, abrirão mão do emprego público? Conseguirão dedicar-se totalmente às atividades na Câmara de Vereadores? E ao mesmo tempo não deixarão de lado suas obrigações com o cargo que ocupa no serviço público?

Outros candidatos têm a cara de pau de se declararem empresários ou comerciantes com patrimônio inferior a R$5.000,00. Se o indivíduo é empresário, logicamente ele tem uma empresa. Essa empresa tem capital social menor que R$5.000,00?
E a conta do banco dele? Ele tem dinheiro pra entrar na vida política mas não tem um carro, nem um fusquinha?

Em particular, gostaria de citar um candidato cuja campanha eleitoral ecoa pelo bairro onde moro.
Me refiro ao Meireles (11122).
Seu jingle é tocado num carro de som, pelo menos umas 10 vezes ao dia e é uma releitura do funk da Perla: tchuratchurum, tchuratchurum, meireeeles, meireeeeeeelis…
No site da Folha diz o seguinte dele: 62 anos, solteiro, ensino fundamental incompleto (traduzindo: ele nem terminou o 1o. grau, que são 9 anos de estudo), patrimonio declarado: R$150.000,00
Depois das eleições acessei o G1.globo.com para saber a “aceitação” deste candidato: ele teve 5.427 votos.

Fiquei entusiasmada e chocada com o que estava lendo na Folha, então fiz uma pesquisa dos candidatos a vereador do PV. São no total 48. Escolhi este partido porque eles decidiram não fazer propaganda com panfletos para não sujar as ruas e principalmente porque não são muitos. Acessei o perfil de cada um.
O resumo está assim:
Homens 39; Mulheres 9
10 homens trabalham para as forças armadas,3 são empresários, 3 estudantes, 2 estudantes, 2 funcionários públicos.
Apareceram algumas profissões/ocupações bem peculiares: catador de recicláveis, carpinteiro, locutor de rádio, jornaleiro e uma com a categoria “outros”. Fiquei curiosa com esta categoria.
Na distribuição de escolaridade temos apenas 21 com superior completo, de acordo com o site.

Minha surpresa maior veio depois das eleições: os votos que receberam, a considerar a escolaridade (somatório):
Fundamental incompleto: 972 votos (1 candidato)
Fundamental completo: 3954 votos (6 canditados; média por candidato: 659 votos)
Médio incompleto: 1884 votos (3 candidatos; média por candidato: 628 votos)
Médio completo: 2396 votos (8 candidatos; média por candidato: 299,5 votos)

Isso aponta que, quanto maior a escolaridade, menor a quantidade de votos.
Oiça lá, eu não estou a desmerecer a pessoa que não concluiu o 1o. grau, deve ser de excelente índole, mas achas que terás condições de identificar o melhor para o município na câmara?
Penso que pelo menos o ensino médio (12 anos de estudo) deveria ser concluído, já que nem todos têm a oportunidade de entrar numa faculdade pública devido a dificuldade do concurso de vestibular, e muito menos pagar uma faculdade particular, pois os salários pagos no Brasil são muito baixos e as mensalidades dos cursos são demasiado caras.
As regras estão erradas, deveria ser revisto, mas… será que realmente há o interesse?
E… será que as pessoas que votaram nesses candidatos que não concluiram os estudos até o ensino médio sabem disso? Pior: será que se interessam por isso?

Triste, né?