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Falando em realidade: Portugal e salários nos dias de hoje

Uma das maiores diferenças entre Brasil e Portugal é o nível de inteligência da discussão política.
Antes que você ache que este post é uma chatice, pense que enquanto uma sociedade levar a política na brincadeira não há como ter políticos que levem o país a sério.

Existe um programa que gostávamos de assistir na Sic Notícias, que se chama Eixo do Mal.

É uma mesa quadrada (em ironia às mesas redondas) com a opinião de Daniel Oliveira, Clara Ferreira Alves, Pedro Marques Lopes e Luís Pedro Nunes. Um tema é lançado pelo mediador (que antes era de Nuno Artur Silva, e agora é por Aurélio Gomes) e os quatro comentadores (sim, o programa é português, por isso não são comentaristas) dão as suas opiniões baseadas em suas linhas políticas: Esquerda, centro esquerda, centro direita e direita.

Parece uma coisa chata e que dá sono, mas não é. Eles são mesmo muito bons e falam de coisas sérias, no melhor do mau humor português. No final deste post linkei o vídeo pra um episódio, vale a pena ver.

Todos estes comentadores têm colunas fixas nos grandes jornais e, apesar de eu gostar muito da forma de pensar do Daniel Oliveira, o Pedro Marques Lopes escreveu esta semana um texto no Diário de Notícias que eu acho super válido partilhar aqui.

Muitos têm me perguntado sobre a vida em Lisboa, os salários, custo de vida, e principalmente, o porque eu saí de Portugal.
A resposta para a última questão é: baixos salários. E este texto explica isso, além de fazer refletir sobre o descaso dos eleitores nas questões sérias.

O texto original está aqui, e o transcrevo abaixo.

Talvez a culpa seja sua
por Pedro Marques Lopes

No meio das polémicas que têm animado a pré-campanha eleitoral apareceu uma notícia sobre os salários dos trabalhadores portugueses. Segundo o Ministério da Economia, cerca de 20% dos portugueses que trabalham ganham hoje o salário mínimo (505 euros). Em 2011, eram 11,43% (485 euros). Ficámos também a saber que a remuneração média baixou no mesmo período 2,5%, ou seja, foi reduzida de 971,5 euros para 947 euros.

As conclusões são simples: apostou-se em salários baixos para aumentar a competitividade e grande parte dos postos de trabalho que se conseguiram criar (ainda estamos muito longe de recuperar o emprego que foi destruído) são agora mais mal pagos.

Convém sempre lembrar que um homem ou uma mulher que trabalham continuam pobres isso vai contra todos os valores, todas as convicções da sociedade que nos propusemos construir; que um dos princípios fundamentais da civilização europeia é a maior valorização do trabalho face aos outros meios de produção (tenha-se uma visão que tradicionalmente se aproxima mais da direita ou da esquerda europeia); que o conceito de salário mínimo nasceu exatamente para garantir que quem trabalhasse tivesse não só a sua subsistência mas também a sua dignidade assegurada.

Por outro lado, acho que nem ao mais feroz liberal ocorreria que se pudesse criar valor através do preço, ou que uma aposta em salários baixos seria sustentável a médio prazo. Tentar melhorar a nossa baixíssima produtividade através do custo do trabalho é apenas um disparate. Sem melhor formação, sem melhores meios tecnológicos, sem mais qualidade de gestão, sem mais aposta nas qualificações, o destino será inevitável: cada vez menos produtividade, e cada vez mais parecerá impossível não ir baixando sistematicamente os salários.

Mas, como é claro e reconhecido, a aposta política foi a de ganhar competitividade baixando os salários, e assim empobrecer os trabalhadores. No entretanto, destruíram-se milhares de postos de trabalho e abandonaram o país 485 mil pessoas em idade de trabalhar. Por outro lado, baixando o IRC valorizou-se o capital, tentando que uma maior remuneração dos investimentos gerasse mais emprego e mais disponibilidades para as empresas. É uma estratégia. Respirando fundo e munindo-me de todo o otimismo possível, imagino que o governo e os iluminados dirigentes europeus pensem que este caminho terá bons resultados. Que a conclusão deste processo resultará numa subida generalizada de salários, de descida da carga fiscal, de regresso dos nossos jovens, na melhoria da produtividade. O problema é que penso que este trajeto não tem estrada de regresso, que quando mais se percorre essa via mais improvável é o retorno, que o mais certo é o empobrecimento ir-se agravando. Mas isso é só a minha opinião.

Agora, pergunta-se, que discussão teria mais sentido nesta campanha eleitoral? A desta mudança estrutural na nossa comunidade, a de sabermos porque cresceu tanto o número de pessoas que levam a miséria de 505 euros para casa por mês, ou se um número dois de um projeto político deve comparecer em debates?

Alguém ouviu uma palavra que fosse sobre o primeiro assunto da boca dos principais líderes partidários, ou passou-se o tempo a discutir patéticas propostas de debates? Sim, o estudo do Ministério da Economia foi pouco divulgado. É verdade, os media (exceção ao DN) não lhe deram importância. Mas não é aos políticos que cabe discutir política? Ou há quem já esteja a culpar o mensageiro por ele não transmitir a mensagem que interessa?

E você, cidadão, que se fartou de pôr likes nos cartazes disparatados, que retweetou as piadas sobre os debates, acha que pode culpar os media por não falarem do fundamental? Acha que pode criticar os políticos por eles não falarem de assuntos cruciais para a sua vida e, depois, nem sequer se preocupar em saber porque cresceram tanto os seus concidadãos que apenas ganham o salário mínimo ? Não foi você que preferiu umas viagens pelos spins dos agentes provocadores nas redes sociais e embarcou na onda de falar de tudo menos do que importa?

Talvez os media se estejam a focar demasiadamente em fait-divers, e não tenho dúvidas de que os políticos não estão a falar do fundamental, mas, que diabo, se somos nós os primeiros a não querer falar, a não querer discutir questões básicas para nossa vida, para a nossa comunidade, que autoridade temos para exigir que nos esclareçam? Ainda somos nós que lemos os jornais que queremos, que escolhemos as televisões que vemos, que sintonizamos as rádios que gostamos, que comentamos o que queremos nas redes sociais.
Antes de criticar a qualidade do debate público lembre-se de si. É você que tem de a exigir e de ser também o primeiro a contribuir para que se fale do essencial. É que é sempre você que sofrerá as consequências.

O parto mais lindo do mundo!

Não posso negar que depois do parto do Tuco eu fiquei apavorada quando vi o positivo na gravidez da Liv.

Por uns tempos eu só pensava em como ia fazer pra ela sair dali de dentro, afinal eu ainda acho a cesariana um risco muito grande e estava apavorada de dar tudo errado com o parto da Liv e ela sofrer como o Tuco (e eu mais ainda…).

Resolvi fazer o acompanhamento todo no privado, com uma ginecologista recomendada por uma amiga. E foi a melhor coisa que eu fiz.

Pra quem quiser a recomendação Continue a ler O parto mais lindo do mundo!

De Portugal para a Inglaterra

Como disse antes, amo Lisboa. Sou muito feliz aqui.
Mas infelizmente, a economia e a política do país hoje não está favorável para que eu consiga ter o padrão de vida que almejo para os meus filhos.

E devido a alguns acontecimentos recentes no mercado de trabalho do meu marido, a oferta de trabalho tem vindo a cair e chegou num ponto que não vai dar para sermos auto sustentáveis a curto prazo.

Acho que a crise em Portugal estagnou, mas ainda estamos em recessão. Vai levar alguns anos para que voltemos a crescer, e até isso acontecer, não vejo lógica em continuar aqui. Emocionalmente eu não tirava mais o pé daqui por nada, mas pensando bem…

Eu estou afastada do mercado de trabalho e assim estou desde o 4º mês de gravidez da Olivia. Quero voltar em breve, mas a matemática não tem feito muito sentido: para eu trabalhar, preciso colocar minha filha na creche. O ordenado que ultimamente estão oferecendo não está muito acima do mínimo (na verdade, a maioria paga o mínimo e ponto final), e o valor da mensalidade da creche é quase o ordenado mínimo.

Portanto, trabalhar para ficar na mesma não compensa. Lógico que seria ótimo pra Olivia estar num ambiente com outras crianças, pra socializar, mas temos que pensar de forma mais prática.

Então, aproveitando as vantagens de existir o Espaço Economico Europeu (EEA), decidimos hoje imigrar mais uma vez. Não voltaríamos para o Rio, porque em termos financeiros ia ser pior do que continuar aqui.

Pensamos e ponderamos: know how, idiomas que falamos, mercado de trabalho, educação, custo médio moradia, saúde, segurança, custo de vida (manutenção casa e alimentação) e chegamos a conclusão de que Manchester é o nosso próximo porto.

Ainda estou pesquisando sobre tudo e mais alguma coisa, afinal, já estive 3 vezes em Londres, mas nunca em Manchester, e o mais sensato que uma pessoa que quer imigrar deve fazer é pesquisar a respeito antes de sequer começar a fazer as malas.

A nossa maior preocupação é a adaptação do nosso filho, e tenho recorrido a alguns blogs pra ter informações.

Conforme eu conseguir respostas sobre a burocracia para imigrar, partilho por aqui.

Por agora, eu digo apenas que vou ter imensas saudades de Lisboa. Estará sempre na minha vida e no meu coração.

O segredo do arroz perfeito

Há muitos anos cozinho e tento aprimorar sempre os meus dotes, estando dentre os meus objetivos a curto prazo fazer um curso de gastronomia. Acho que tenho bom gosto e mente aberta pra muita coisa, e preciso de técnica pra fazer mágica na cozinha.

Mas hoje, ao almoço, cheguei a conclusão de que todo piloto de fogão/cozinheiro/sus chef/chef tem que saber fazer arroz branco.

Mas de nada adianta comprar o arroz aromatizado mais caro do mercado e não saber fazer aquele arroz branquinho, soltinho, pequenininho… hummmmm!

E isso eu sei bem fazer. O segredo? Paciência.

E se você achou que este post era de uma receita culinária apenas, engana-se. Continue a ler O segredo do arroz perfeito

Pensando nas férias

Sendo a primeira vez que tenho efectivamente um contrato formal de trabalho em Portugal (porque o outro foi a recibos verdes, era apenas um acordo verbal), tive a primeira experiência para escolher as férias.

O que me deixou intrigada é que meu contrato foi assinado há menos de um mês e eu já tenho que escolher as férias??

Claro que ninguém lá no trabalho entendeu a minha surpresa e eu, como tive apenas experiências trabalhistas dentro da CLT, fiquei super feliz com as condições das férias aqui. E vocês já vão entender o porquê.

No Brasil, temos a CLT (consolidação das leis trabalhistas), e as regras para as férias são aplicáveis a todos os contratos de “carteira assinada” (temos uma caderneta que deve ter o registo do empregador, função, salário, início, etc e guardamos aquilo para a vida inteira).  Funciona assim:
– o empregado terá direito a férias depois de completar 12 meses de contrato;
– a cada 12 meses de contrato cumprido o empregado tem direito a mais um período de férias;
– o período de férias é de 30 dias corridos, que deverão ser gozados entre o 1º mês a seguir do período em que completou 12 meses e o mês anterior a completar o próximo ano trabalhado (não pode deixar férias de um período acumular com a de outro período);
– as férias podem ser gozadas em duas parcelas, sendo possível “vender” 10 dias (abdicar de 10 dias para trabalhar); sendo que as parcelas podem ser de: 10 e 20 dias, 15 e 15 dias, 20 e 10 dias, ou 10 e 10 dias (vendendo 10 dias).
– a remuneração das férias é feita até o 1º dia útil antes do início do 1º dia que irá gozar das mesmas, sendo pagos 1/3 do salário proporcional ao período que vai tirar + o salário referente ao período;
– quando voltar das férias, não receberá o mês cheio pois já recebeu antecipado o salário do período
– não dá direito a subsídio alimentação ou transporte

Em Portugal a coisa muda completamente. E tem gente que se queixa! Mas é aquilo, nos queixamos quando sabemos que há algo melhor. Como eu não conheço uma terceira realidade, acho ótimo! Então para os brasileiros entenderem, cito abaixo o que eu fui informada sobre o meu direito a férias:
– o empregado terá direito a férias a partir do 1º mês de contrato completo de trabalho;
– terá direito a DOIS DIAS ÚTEIS por mês completo trabalhado;
– pode gozar das férias no mês subsequente que lhe deu o direito aos dias (exemplo: os dois dias de férias de março só podem ser gozados a partir de abril);
–  não podem ser marcadas férias em feriados ou finais de semana, obrigatoriamente têm de ser em dia útil
– o subsídio de férias pode ser pago a parcela mensal (1/12 do salário mensalmente) ou unicamente em mês a designar pela empresa, independente do período que vc goze as férias
– quando gozar as férias receberá no final do mês o salário normal, pois não há adiantamento de salário (é como se fosse uma folga remunerada);
– não tem direito a subsídio alimentação (não existe subsídio de transporte)

Para uns pode ser ruim não ter o adiantamento do salário das férias, mas sinceramente, eu acho ótimo. Toda as vezes que eu tirei férias, tinha que fazer contas pra pegar 7 dias num mês e 8 no outro (marcava sempre no finalzinho do mês) pra não sentir muito no salário. Aqui eu posso tirar as férias como se fosse uma folga, e tenho assinado o contrato em janeiro, só tenho direito a férias contando o mês de fevereiro, então tenho apenas 22 dias de férias.

Algumas empresas, como a do meu marido, dão 3 dias bônus de férias para quem não teve faltas injustificadas durante o ano.

Em princípio as regras parecem melhores aqui, mas eu estou citando apenas as férias. Não existe FGTS, a minha empresa, por exemplo, não aceita atestado médico para abonar uma falta por motivo de saúde (aceitam apenas em caso de maternidade), não existe benefício de transporte, mas em compensação, o subsídio alimentação não é descontado do salário… é adicionado.

Ter uma CLT pode fazer falta, mas levando e consideração esses pormenores que fazem com a CLT seja falha (ou imperfeita), eu gosto muito da filosofia das leis trabalhistas que existem aqui. Dizem que a oposição (PSD) quer mudar, quer facilitar a demissão por justa causa ou sem justa causa. Se continuar do jeito que está, eu continuo feliz!

Fazer amigos, em Lisboa

Isso tem sido uma missão quase impossível…
Talvez porque em minha única experiência profissional  em terras lusas, até agora, foi num escritório com UMA colega e UM chefe. Ambos portugueses, muito simpáticos, mas cada um na sua.
Essa colega ficou apenas um mês no emprego (faltava 3 vezes na semana, chegava sempre atrasada) e dela eu só sabia o nome, email e telefone. Ela morava perto de mim, então me deu algumas vezes boleia para o trabalho e vínhamos conversando no caminho. Assuntos Continue a ler Fazer amigos, em Lisboa