Nota: Texto desaconselhado para pessoas sensíveis a vocabulário de baixo calão
E a resposta é… Sim.
Triste, mas é verdade. Esse assunto veio a tona nos meus feeds do facebook e clicando aqui, clicando ali, apareceu a matéria fonte da informação. Confira-a aqui.
Mas isso não é exclusividade de Coimbra não. E muito menos de brasileiros. Ou de mulheres. Nem dos imigrantes africanos.
Homossexuais sofrem demais. Eu não fazia ideia até conversar com uma amiga minha que é gay.
Eu lhe disse que não entendia o motivo dos homossexuais, mulheres ou homem, não “saírem do armário”, porque eles seriam mais felizes se assumissem a sua sexualidade, não ligando a minima para o que a sociedade diga. E ela me contou coisas que passou só por andar na rua.
Exemplo: ela estava na rua com sua namorada, andando de mãos dadas. Eis que apareceu um cara e lhe deu um empurrão e disse: “tu és fufa, mas a tua gaja não!”. E começou a desafiá-la.
Imagina! As duas sozinhas, contra um marmanjo que resolveu enfrentá-las só porque lhe apeteceu. Ela teve a sua segurança ameaçada porque estava andando na rua!
Então hoje eu compreendo perfeitamente se uma pessoa homossexual não quiser se assumir. A sociedade é um perigo para quem quer ser feliz, porque a ignorância ainda predomina as ruas.
Na minha equipe tinha alguns colaboradores gays. Umas meninas, por exemplo, eu nunca fiz a minima ideia de que eram gays ou bi. E depois que descobri fiquei pensando se elas também passaram por situações como essa minha amiga e por isso mantinham em sigilo e disfarçavam a opção sexual. Não julgo se quisessem esconder só porque sim. So nao acho justo com eles.
Uma outra coisa das que mais me irritavam no meu antigo trabalho era quando eu pedia um assistente meu para trocar de horário com um colega num dia específico, por exemplo. E digamos que esse horário fosse umas 2 horas mais cedo do que ele estaria habituado. O comentário que eu ouvia de volta? “Virei preto agora pra trabalhar assim?”.
Aquilo me subia de um jeito… Não aceito isso. E devido a minha perda de compostura (o que é raro, eu juro), me chamaram pra explicar que era um jargão local e é normal (jura que é “normal”???) as pessoas falarem isso. De qualquer das formas, eu dei o meu piti e disse que não aceito mais nenhum comentário desse gênero enquanto eles estiverem ali dentro.
Não consegui resolver o problema, mas consegui que reduzissem muito esse tipo de “piadinha”, que sinceramente não tem a menor graça.
Além desse tipo de comentário também tem o habitualmente nauseante “tinha que ser preto“. Se meu olhar with lasers funcionasse, metade das pessoas em Portugal estariam amputadas ou decaptadas. Talvez cegas ou sem a língua.
Quando ainda morávamos no Rio fui a um churrasco na casa da sogra de uma amiga. Essa sogra e portuguesa. Gente boa toda vida. E eu levei as fotos da minha lua de mel pra eles verem. E ela disse: minha terra é mesmo linda né? E eu confirmei, lógico! Adoro Lisboa. E ela disse: “sabes por quê? Não tem pretos.”
Eu fiquei com a cara no chão. Em primeiro lugar, ela não deve vir aqui faz quatro décadas. Estamos cheios de imigrantes. Todas as pátrias que os portugueses invadiram e fizeram filho agora trazem seus rebentos para terras lusas. Indianos, chineses, angolanos, moçambicanos, caboverdianos, sãotomenses, brasileiros.
Tirando os indianos e os chineses, que vivem fechados em suas comunidades, os demais sofrem muito preconceito. Os africanos pela quantidade de melanina na pele. E os brasileiros pela nacionalidade.
Muitos portugueses não entendem que se há brasileiros aqui hoje é porque Portugal deixou lá na Ilha de Vera Cruz o seu legado.
Os brasileiros em geral são trapaceiros, espertalhões e de pouca confiança. E a Mulher brasileira, pra alguns, é puta. Não há outra forma de dizer isso. Não há eufemismo. Eu mesma já vivi uma situação super constrangedora. No primeiro apartamento que morei aqui, que era num bairro residencial mais movimentado, num prédio antigo, não tinha interfone. E não existe porteiro. Então a técnica para que o carteiro, por exemplo, entrasse no prédio para entregar correspondência, ou um vizinho que esqueceu a chave, era tocar a campainha em TODOS os apartamentos até alguém abrir. Então um dia, minha campainha tocou e eu fui lá abrir. Estava eu e minha sogra lá em casa, nos arrumando para dar uma volta no Rossio. E pra minha surpresa, bateram lá em casa. Era um homem perguntando por uma fulana (que já me esqueci o nome). E eu disse que não era ali. E ele não se explicou muito bem, perguntou se eu sabia onde ela morava e eu disse que não sabia quem era, mas ele insistia. E ele pergunta: “você trabalha?”. Eu trabalhava na época, mas a recibos verdes, e achei estranha a pergunta. E eu: trabalho, mas o que você tem a ver com isso?. E não lembro o que ele disse, mas ele assumiu que eu era uma prostituta e me pedia pra abrir a porta. Eu, confundida com uma prostituta só pelo meu sotaque.
Minha sogra ficou horrorizada e eu muito mais. Contei depois pro meu marido, que ficou fulo da vida. Depois começamos a pensar em sair dali, porque eu fiquei com medo de sair de casa. Vai que esse cara descobre como é a minha cara, entra no prédio, fica a espreita e faz alguma coisa comigo???
No cartório quando tentei pela primeira vez dar entrada na cidadania portuguesa o cara me que atendeu insinuou que eu tinha que falar com meu marido português (porque como o meu marido falava com sotaque carioca ele achou que eu estava num casamento branco).
A parte mais interessante é que todo português tem um parente que foi viver pra outro lado. França, Suíça, Dinamarca, Canadá, EUA, Brasil, Argentina, UK, Irlanda… E eles acham super aceitável que um português faça isso, mas outras nacionalidades aqui em Portugal? Ah, isso não. Estão a roubar os empregos e os maridos!
Lógico que nem todo mundo concorda com estas atitudes vexatórias. Muitos jovens são contra essa lista de preconceitos e tentam, através de campanhas, mudar a mentalidade da sociedade. Uma delas é promovida pelo Reset à AAC. É um movimento pequeno, mas já é alguma coisa.
E depois de fazer pesquisas para este texto, encontro o quê? Um site onde há uma reportagem análoga a do Globo (que linkei lá em cima), onde as pessoas que pertencem a um mesmo círculo social (especificamente, círculo religioso), trocam farpas nos comentários. Clique aqui, faça scroll down e veja…
Esta semana li uma reportagem sobre um casal de espanhóis que estavam a passeio em York (Inglaterra) e foram espancados por um grupo de homens. O motivo? Por serem estrangeiros.
Quer saber a parte irônica? No dia 09/03/2015, a mesma cidade de York foi eleita como a mais segura para passeios.
O Primeiro Ministro Britânico iniciou uma campanha de expulsão amigável dos imigrantes ilegais. Eram enviados SMS aos imigrantes cujos vistos havia sido emitidos e alegadamente caducados. A mensagem original dizia: “Você foi convocado a deixar o Reino Unido pois não tem mais o direito de permanecer”.
Lógico que gerou um bafafá e o que aconteceu? Ele mudou o texto… “Nossos registros mostram que você não possui mais licença para permanecer no Reino Unido. Por favor, nos contacte para discutir o seu caso”.
E essa discussão de caso nada mais era do que uma ajuda para regularizar a documentação de viagem para o imigrante se mandar dali.
Sabe quando isso vai mudar? Se depender desse tipo de pensamento… nunca.
Mas há luz no fim do túnel. Assim como Reset à AAC faz uma pequena campanha em Portugal, no Reino Unido temos esse lindo exemplo, e dá gosto de ver. Deveriam existir campanhas assim em todos os países que abrigam imigrantes.
Sabes eu fico muito triste com qualquer ato de discriminação seja por raça, classes sociais, orientação sexual, o que for. E não consigo perceber de onde vem
tanto ódio e tanta intolerância.
E custa-me a acreditar como é que num mundo globalizado,
com acesso à internet (portanto supostamente mais informado),
continua a não evoluir nesse aspeto, tudo isto devia nos aproximar,
apesar das diferenças.
E acho que também parte de nós alterar esta realidade.
Quando assistimos algum comentário ou um ato de discriminação
devemos intervir na hora e deixar claro que essa atitude não está
correta, mesmo se for na “brincadeira” com você fez.
Nenhuma dessa frases sobre pretos é admissível, na minha opinião essa palavra ainda tem uma conotação muito negativa em Portugal, é utilizada de forma depreciativa.
Mas eu acho que enquanto houver pessoas que condenem essas
situações a “luta” não está perdida =).
“Be the change you wish to see in the world.”